Relatos de parto

Luca

Isadora & Felipe

No ano de 2015 decidimos engravidar, eu já havia assistido o filme "O Renascimento do Parto" e simpatizava com a idéia, embora não soubesse bem o que realmente era um parto humanizado. 

 Comecei a procurar obstetras em BH que trabalhassem nessa linha e descobri o Núcleo Bem Nascer. Liguei para todos os médicos do Núcleo e nenhum deles estava atendendo novos pacientes. A batalha começava ai, não bastava apenas ter o desejo de um parto normal, mas buscar um médico que trabalhasse nessa linha e conseguir uma consulta, era difícil também. Insisti na Dra. Avelina, o porque eu não sei, pedi para a secretária que me colocasse em uma fila de espera caso abrisse uma vaga. Passou algumas semanas e consegui uma consulta para o próximo mês. Eu tinha muito medo de engravidar e não ter um obstetra de confiança que me encorajasse ao meu desejo por parto normal não ir por água a baixo.

Chegou o dia da primeira consulta e foi amor a primeira vista. A Avelina me falou da sua proposta de trabalho, e perguntou se era aquilo que eu buscava. Fiz todos os exames, parei de tomar anticoncepcional e começaram as tentativas. Um ano depois em abril de 2016 tivemos o positivo. 

Tive uma gestação tranquila, sem grandes intercorrências. Me preparei bastante, estudei, li sobre parto, fiz cursos e frequentei uma fisioterapia obstétrica. 

Já na nossa primeira consulta após o positivo, por recomendação da Dra. Avelina fui até a clínica Sabrina Baracho, um espaço especializado em fisioterapia e saúde da mulher. Eu não sabia ao certo o que estava fazendo lá, ao meu ver me preparando para o parto, mas na verdade era muito além, estava me preparando para o parto e prevenindo para ter um pós parto de sucesso. Na consulta com a fisioterapeuta fiquei sabendo que eu tinha uma força e controle de expulsão perfeito. Mas em contrapartida também tinha um períneo bem rígido, o que não era fator impeditivo para um parto normal, mas as chances de lacerações  ou necessidade de uma episiotomia, eram bem grandes. Então começamos um trabalho que durou até o final da gestação, na qual fiz exercicios para o assoalho pélvico, e a cada consulta os resultados eram mais satisfatórios. Na mesma clinica, em conjunto com a fisioterapia, fiz pilates para gestantes, o que ajudou muito nas dores devido às mudanças do corpo na gestação. 

Ao longo do processo gestacional, percebi que o que eu buscava não era exatamente um parto normal: obvio que se falando de parto humanizado, o desejo inicial é um parto normal, empelicado, rápido, sem complicações e sem muita dor. Mas o parto ideal nem sempre é o parto real. Eu entendi e realizei que o que eu queria era ser respeitada, as vias de parto, com ou sem analgesia, no banquinho ou na água, cesariana ou normal, só saberia na hora. Eu nunca havia vivenciado tudo aquilo, e não saberia onde nem como me sentiria melhor. Além de que, precisariamos em primeiro lugar, dar atenção para a segurança da minha saúde e do bebê. Cada vez mais, fui tendo a certeza de que seria respeitada e meus desejos seriam atendidos, tanto pela minha obstetra quanto por qualquer outro médico do Núcleo. Nosso bebê tinha previsão para o final do ano e poderia acontecer de meu parto ser com um dos outros obstetras.

Com 29 semanas eu e meu marido fizemos um curso de preparação para o parto com a equipe do MG Doulas, na qual foi muito esclarecedor. Aprendemos sobre todo o processo do trabalho de parto, quando ir ou não ir para o hospital, maneiras de amenizar a dor, posições possíveis, enfim, estavamos bem encorajados e esclarecidos a esperar o nosso filho vir ao mundo quando ele se sentisse pronto. 

As semanas foram passando e a data do possível parto se aproximando. Com 39 semanas eu estava com 1 cm de dilatação e o colo grosso, também perdi o tampão mucoso. A cada consulta uma evolução, mas eu fisicamente, não sentia nada de diferente. Nada além do cansaço e peso daquele final. Mas sabia que era assim então estava tranquila na espera. Fiz as últimas sessões de fisioterapia obstétrica e meu períneo que inicialmente era rígido, estava bem mais relaxado. Fiz os treinos de expulsão com o EPI-NO na qual é simulado o controle muscular necessário durante o nascimento do bebê. Assim pude ter uma noção da sensação e quais músculos e força deveria utilizar ao meu favor.

40 semanas e fizemos um ultrassom de rotina e monitoramento, tudo ótimo com o bebê, placenta alimentando bem e líquido para dar e vender. Todas as noites eu ia dormir pensando, essa noite eu entro em trabalho de parto, e nada.  Fechamos 41 semanas e as consultas com a obstetra já eram diárias e embora estivessemos preparados para esperar, a ansiedade, o cansaço e a inquietação começaram a falar bem mais alto, a data provável do parto já havia passado. Eu já estava com o colo médio e com 4cm de dilatação, mas não tinha contrações ritmadas e nem sentia algo de diferente na qual indicasse que iria entrar em trabalho de parto.  Então com 41 semanas e 1 dia, decidimos tentar  alguns métodos de indução menos invasivos, pois de acordo com minha evolução estava tudo bem favorável para que tivéssemos sucesso em entrar no trabalho de parto. No consultório, a médica fez um pequeno descolamento de membrana, procedimento um pouco dolorido, e eu seguia sem sentir nada de diferente. Para auxiliar no processo , agendamos para o fim do dia seguinte uma sessão de acupuntura com um outro médico do Núcleo e voltaria no consultório da minha GO para descolar um pouco mais da membrana. 

Nesse dia dormimos cedo, tive uma noite tranquila, dormi toda a noite, coisa que já não estava sendo mais possível devido às inúmeras idas ao banheiro e a falta de posição confortável. 

41 semamas e 2 dias, acordei cedo e fui fazer uma caminhada bem longa. Voltei para casa, tomei banho e as 10hrs da manhã resolvi fazer as unhas. Estava no salão quando comecei a sentir contrações mais ritmadas, mas tudo totalmente suportável. Terminei de fazer as unhas e avisei minha obstetra que achava que estava entrando em trabalho de parto, iria para casa monitorar e avisaria ela. Também liguei para minha doula ficar alerta. É acho que a acupuntura e a consulta na GO que teriamos nesse dia, iriam ser canceladas. 

Estava chegando a hora, independente da maneira que viesse, nosso filho estava prestes a nascer. 

As 12hrs avisamos a médica, contrações de 3 em 3 minutos. Tudo totalmente suportável, entre uma contração e outra eu comi, troquei de roupa e também me maquiei. Me maquio todos os dias para fazer coisas tão cotidianas, com certeza iria ter make para esperar meu filho. Caprichei no rímel a prova d'água e fui. Combinamos as 13:30 no hospital para a médica me examinar. 

Antes de sair de casa ficamos na dúvida, será que levamos as malas?! Imaginei que iria no hospital para médica me ver e voltar para casa pois eram contrações tranquilas dentro do meu limiar de dor. 

No caminho da maternidade paramos em um posto de gasolina para sacar dinheiro, e ali minha bolsa estourou. Cheguei no hospital toda molhada, logo foram trocando a minha roupa e fiquei aguardando a Dra. Avelina que chegou em seguida.

Exame de toque feito, 8cm de dilatação e colo mais fino que uma folha de papel. Avisamos a Daphne, nossa doula, para vir correndo que iria nascer. 

As 14hrs subimos para a suíte PPP, enquanto a doula não chegava, a médica e meu marido faziam os trâmites burocráticos da internação, fiquei acompanhada por uma doula da própria maternidade. Fui para o chuveiro e ali começaram as contratações mais fortes, aos poucos fui entrando no mundo da partolândia. Fui perdendo a percepção de tempo e me internalizando, concentrando em mim, no meu corpo e no bebê, eu estava completamente entregue ao momento.

Logo em seguida minha doula chegou e ficou junto comigo no chuveiro, fazendo massagem nas minhas costas e falando palavras de me davam mais forças. Depois de um tempo me convidaram para ir para a banheira, entrei e me senti no paraíso, a sensação de alívio era imensa com aquela água morninha. 

Então ali ficamos, de um lado a doula e de outro o meu marido. Todo tempo ficou tocando a playlist delícia que eu monteu, cheio de sons com significado e alto astral. Entre uma contração e outra fomos conversando, cantando,  eu delirando para ser mais honesta, mas recebendo muito carinho, amor e incentivo. Eu sentia dor, mas tudo era suportável. Estava tão focada, concentrada em parir que em nenhum momento passou pela minha cabeça que existia a possibilidade de analgesia. A anestesista estava à disposição caso fosse preciso, mas eu pedi no meu plano de parto para não me oferecer nada, e assim fui atendida. Minha médica vinha de tempos em tempos fazer nosso monitoramento, corria tudo bem e o bebê estava ótimo. Até que por volta das 15:20 começou o período expulsivo, então veio para o quarto toda a equipe médica: pediatra, enfermeiras e auxiliares. Entre uma contração e momentos de lucidez eu via aquela platéia toda assistindo, apostos esperando a chegada do nosso filho. Minha GO sentou na borda da banheira e começou a me guiar. As contrações estavam bem apertadas e eu sentia uma pressão imensa da cabeça do bebê no meio das pernas. A cada contração eu fazia mais força e aos pouquinhos ele ia saindo. Então senti uma ardência muito forte o tal "circulo de fogo". Dra. Avelina disse que estava coroando, era a cabecinha saindo e essa ardência iria continuar até ele sair todo. Eu continuava muito concentrada e escutava ao fundo as orientações da Dra. Então ela disse: - Vamos Isa, na próxima contração capricha que só falta o corpinho. E veio a próxima contração e eu fiz força e não consegui, veio mais uma e mais uma. Eu não tinha forças para empurrar ele. A sensação é que tinha uma força muito maior do que a minha, e essa estava puxando ele para dentro de novo. Então eu pedi ajuda e disse que não iria conseguir, pedi que ela tirasse ele para mim. Foi quando ela colocou a mão e viu que tinham duas circulares de cordão bem apertadas. Foi tudo questão de segundos e ela agiu rapidamente. A própria medica cortou o cordão, ao invés do meu marido. Luca nasceu um pouco molinho e ao invés de vir para os meus braços, ele foi direto para o pediatra examinar. Logo nosso menino já reanimou sozinho mesmo e teve apgar 8/9. 

Ficamos bem assustados, segundos que pareciam uma eternidade. Mas ouvir aquele chorinho com toda força foi ô alivio.

Me tiraram da água, deitei na cama e trouxeram ele para os meus braços, nosso primeiro encontro, aqueles olhinhos fixos me olhando. Aquele rostinho perfeitinho, pele limpinha e um cheiro que nunca vou esquecer. Nosso gurizão veio ao mundo com toda a sua força as 15:55, pesando 3,750kg ,um parto rápido e muito intenso. 

Toda a preparação  com a fisioterapia obstetrica, resultaram no sucesso, meu períneo saiu dessa... intacto. 

Eu ainda na cama com o bebê nos braços e vieram os pensamentos. Meu deus pari esse meninão de forma natural. Se eu senti dor? Sim senti, mas tudo foi encarado como um rito de passagem, me entreguei e aceitei a dor. Ao invés de lutar contra, recebi as contratações como um momento em que o meu corpo se preparava para dar ao nosso filho a passagem para uma nova vida. 

 Fui protagonista do meu parto, fui acolhida e respeitada, tudo aconteceu no seu tempo e de forma humanizada, equipe médica agiu quando foi necessário assim respeitando nossos desejos e garantindo a minha saúde e do nosso bebê.