Relatos de parto

GUILHERME

Marina & Mayerson

Meu relato de parto começa há 4 anos atrás, com o nascimento da minha filha Ana.

Eu nunca quis uma cesárea, porque tenho pânico de cirugia! A Ana nasceu de parto normal. Fui assistida por um médico sensível e muito atencioso, que eu gosto muito, mas isso não evitou a cascata de intervensões: Enema, tricotomia, indução com soro de ocitocina sintética...

O parto foi no bloco cirúrgico, sem conforto nem aconchego, rodeada de muita gente desconhecida que eu acho que nem precisava estar ali. Terminou com o obstetra auxiliar fazendo manobras de Kristeller na minha barriga e depois, um fórcepes de alívo. A Ana não chorou! Quando perguntava porque ela não chorava, ninguém me respondia nada! Ela demorou para vir para o meu colo e ficou nele toda enrolada, só o tempo de algumas fotos. Foi levada para o berçário e só chegou no quarto bastante tempo depois... Foi uma experiência estranha!

Mas sempre achei que o Gui chegaria assim também e pra mim estava ótimo! Eu nem cogitava que poderia ser diferente, que poderia ser muito melhor!

Antes de engravidar do Gui, tive dois abortos espontâneos e por isso a gravidez dele foi muito tensa... Tive muitos medos: medo de perdê-lo, medo de morrer e não poder cuidar da Ana...

Com 20 semanas comecei a fazer yoga para ver se conseguia me acalmar um pouco.

Quando eu estava com 21 semanas, uma das minhas melhores amigas perdeu o bebê dela com 38 semanas por causa de um descolamento de placenta... Eu só chorava... Não consegui dormir por vários dias! Não acreditava que aquilo estava acontecendo com ela! Só conseguia pensar: “Meu Deus! Tem muita coisa que pode dar errada até o final”!

Quando eu achei que já tinha passado por tudo, com 24 semanas meu médico avisou que estaria viajando 20 dias em outubro e me indicou outros 3 médicos. Eu chorei lá no consultório mesmo... “Desculpa doutor... Eu sei que o senhor pode tirar férias mas eu não acredito que isso está acontecendo comigo! Minha amiga só perdeu o bebê porque não estava com a médica dela”! Ele tentava me acalmar me dizendo que os médicos eram da confiança dele, experientes!! E dizia que o Gui poderia esperá-lo. Mas a verdade é que eu não queria outro médico.

Passado o desespero, fui para internet pesquisar as minhas opções: um não atendia pelo plano. Pesquisei bastante os outros dois e acabei escolhendo o Dr Sandro.

Na primeira consulta já fui logo avisando: “estou arrasada que o meu médico vai estar viajando”! Ele foi muito delicado e me acolheu! No final da consulta me passou os telefones e disse: “agora já nos conhecemos, se você entrar em trabalho de parto e seu médico não estiver aqui, pode me ligar!” Eu logo respondi: “Claro que não! Se a maior chance é de você fazer o meu parto, vou continuar o pré natal com o senhor!”. E ele respondeu: “ok. Essa é uma decisão sua, mas não fique com os dois médicos. Isso não tem necessidade e onera o sistema”! Eu respondi: “Claro”! Mas pensei: Tô nem aí pro sistema! Quero é me sentir tranquila! E claro, continuei com os dois! E como onerei o sistema!! Já que eles pediam exames diferentes!

Ele mudou os protocolos, pediu exames adicionais e respondeu prontamente todas as minhas dúvidas...

Mas eu continuava com medo... Foi então que resolvi resgatar a Clara, minha doula. Já tinhamos conversado uma vez antes, mas acabei deixando o assunto morrer, principalmente porque o meu marido não queria uma doula. Achava que ela iria “roubar” o lugar dele.

Com 34 semanas, depois dos incentivos da Clara, eu decidi fazer o plano de parto. Baixei o plano do site do Bem Nascer e chamei o Mayerson para preenchermos juntos... Ele não quis! Disse que não tinha necessidade de preencher aquele tanto papel. E que aquilo era burocratizar o nascimento! Bastava chegar no hospital para o bebê nascer!

Eu preenchi, discuti com a Clara e tirei todas as minhas dúvidas com o Dr. Sandro, especialmente sobre o fórcepes e o vácuo extrator, porque tinha certeza que teria que usar um dos dois novamente. No plano, eu deixei bem claro que não queria nenhum louco pulando em cima da minha barriga e que queria o Gui perto de mim o tempo todo! Decidi que seria na suíte pela privacidade.

Depois disso fiquei bem mais tranquila, segura e confiante.

Durante a consulta semanal, o Dr Sandro disse que o Gui ainda demoraria mais umas duas semanas para nascer e o médico do ultrassom confirmou...

Eu saí do ultrassom e falei com o Gui: “Meu filho, se você já está pronto, pode nascer! Eu tô doida para te conhcer e queria que você viesse antes das 38 semanas porque quanto mais tempo você ficar aí, mais chance de dar algua coisa errada. Não escuta nada que esses doutores estão falando não. Pode vir! Vem de madrugada e escorrega daí que a mamãe está te esperando! Mas se você precisar ficar mais tempo aí, ok... Mas vem antes do dia 18 porque não quero ter que escolher o médico...

37 semanas e 5 dias, 1 h da manhã levanto para ir ao banheiro e minha bolsa rompe. Acordei o Mayerson e liguei para o Dr Sandro: “Oi Dr Sandro, minha bolsa estourou.Que horas é pra ir para maternidade”? Ele estranhou a pergunta e respondeu: “Agora”! Eu não discuti, mas como o parto da Ana tinha demorado muito, pensei: “Af! Vou mofar naquela maternidade”!

Corre corre para terminar de arrumar minha mala e arrumar a mala do Gui que não estava feita!!

Saímos de casa e eu ainda estava na dúvida se ligava ou não para Clara, já que o Mayerson estava resistente com a presença de uma doula. Aí falei: “Mayerson, me empresta seu telefone para eu ligar para Clara”? Ele me deu o telefone sem fazer nenhuma objeção e eu liguei. Graças a Deus que eu liguei! O apoio dela foi fundamental!

Chegamos no Santa Fé por volta de 1:30. Quando o Dr Sandro me examinou, estava com 3 cm. Ouvir que meu corpo estava funcionando, bem diferente da primeira vez, me deu o empurrãozinho que faltava para eu me entregar por completo.

Subimos para a suite de escadas. Chegamos lá, ele apagou as luzes, ligou a luz azul, arrumou a temperatura do quarto, começou a encher a banheira e falou para eu ir para o chuveiro.

Eu fiquei no chuveiro até a Clara chegar. Quando ela chegou, eu saí, ela fez massagem nos meus pés e depois eu sentei na bola, colocamos uma musiquinha e ficamos conversando. Quando vinha uma contração, eu pulava na bola, o Mayerson fazia massagem nas minhas costas e passava rapidinho. Tava super tranquilo...

Por volta de 4:20, o Dr Sandro fez outro exame e falou: 5cm! Eu dei um grito: “Que droga”! Ele respondeu: “calma! Não tem ninguém com pressa aqui”. E eu disse: “Eu! Eu tô com muita pressa! O que eu faço agora”? Ele falou: “faça o que você quiser, mas eu recomendo deixar a banheira para o final. Vai para o chuveiro e fica lá até não aguentar mais”...

A Clara levou a bola para o chuveiro e ficamos lá... Em muito pouco tempo as dores começaram a aumentar muito!! A Clara fazia massagem, jogava água nas minhas costas, mas não estava resolvendo... Até que falei pro Mayerson: “liga agora para o Sandro agora e fala que eu quero uma anestesia”!! Ele fez isso; O Dr Sandro chegou imediatamente e disse: “Nós vamos para o bloco, você toma a anestesia e voltamos para cá. Você só precisa andar até a maca”! E quem disse que eu aguentava andar até a maca?! A Clara ainda tentava: “Marina, antes de tomar a anestesia, entra na banheira”! Mas eu estava certa: “Eu quero uma anestesia agora”!!!

Nessa parte as coisas ficam um pouco confusas de lembrar para mim. Eu estava entregue a minha dor! Definitivamente não conseguia andar até a maca que estava lá fora da suíte e acabei chegando na banheira com a ajuda da Clara. Quando entrei na banheira tive um alívio de 5 segundos e a Clara me ajudou a encontrar uma posição melhor. Nessa hora eu pensei: “Meu Deus! O que que eu fui inventar”! e logo já estava entregue a minha dor de novo! A Clara tentou me ajudar fazendo massagens, mas estava doendo mais e eu gritei para ela parar... Nisso, o Dr. Sandro se abaixou perto da banheira e começou a conversar comigo: “ Marina, você está sentindo uma dor muito forte?! Mesmo quando passa a contração você continua sentindo a sua pelve cheia”?! Sim! Era aquilo que eu estava sentindo! Essa conversa foi fundamental para me tirar daquele estado de “entregue a dor” e me trazer de volta à consciência! Então eu lembrei que essa era a dor do final e que no parto da Ana eu pedi anestesia, que acabou complicando tudo... Definitivamente eu não queria aquilo de novo.

Ele disse que precisaria fazer mais um exame. Eu respondi que não. Nessa hora eu lembrei da minha conversa com a Clara: “Marina, quando tiver próximo do final, coloque a mão. Se você sentir a cabecinha do Gui, terá forças para terminar”. Assim eu fiz e eu senti a cabecinha dele!! Olhei para o Dr e falei: “tá nascendo!” Ele se abaixou e pediu a Clara para chamar a enfermeira. Eu fiz mais umas três forças, gritei muito e o Gui nasceu às 05:12! A Clara me ajudou a virar e o Dr Sandro colocou o Gui nos meus braços. Ele chorava alto e forte!! Estava todo cobertinho de vérnix! Muito lindo o meu menino! Um sentimento de amor, gratidão e alívio tomaram conta de mim e eu nem me lembrava mais da dor...

O Dr Sandro esperou uns minutinhos, clampeou o cordão. Mesmo no plano de parto estando escrito que o papai não queria cortar o cordão, o Dr. Sandro disse: “Mayerson, vem cortar o cordão”! O Mayerson continuou lá, imóvel! Mas o Dr Sandro não desistiu: “Mayerson, você viu o que a sua esposa acabou de fazer?! Vem aqui cortar o cordão”! Então ele também teve o seu momento de coragem e cortou o cordão!

O Gui foi observado pela pediatra e apenas pesado naquele momento. Não fizeram mais nada com ele!

O Mayerson ficou segurando o Gui. Eu saí da banheira, fui para a cama, o Dr Sandro fez uma manobra para ajudar a saída da placenta e me examinou: tive uma laceração muito pequena. Nem foi necessário dar pontos. O Gui voltou para o meu colo e ficou mamando e nós babando!

Depois de um tempo tomei um banho e fui para o quarto. Só no quarto ele foi medido e recebeu a vitamina K mamando. Nem chorou! Não recebeu o colírio de Nitrato de prata nem tomou banho nesse dia!

Eu estava muito feliz e bem disposta para cuidar do meu bebê e da minha menina que logo chegou para conhecer o irmão! Eu tive alta no dia seguinte pela manhã e tenho certeza de que esta foi uma das experiências mais maravilhosas e transformadoras da minha vida!.