Relatos de parto

Mercedes

Maria Clara & Luís

O nascimento de Mercedes...

No dia 23 de setembro de 2015 nasceu nossa pequena Mercedes... parto natural,  sem anestesia ou analgesia, sem episiotomia, sem laceração, sem presa... com muita calma, paciência e amor! Tudo fluiu muito naturalmente!

Embora tenhamos visto muitos vídeos de parto com meu marido, eu não tinha uma ideia muito “romântica” do parto... por mim tanto fazia em um bloco cirúrgico ou em uma banheira de hidromassagem e cromoterapia rsrsrsrsrs... só queria que a minha Mercedes fosse protagonista da sua vinda ao mundo, que nascesse acordada, ativa, saudável; e que eu estivesse também bem acordada, ativa e saudável para poder atende-la!

Quando penso em como aconteceu tudo, até eu mesma me surpreendo, pois quem me conhece sabe quanto sou ansiosa, como sou medrosa de que algo dê errado, e gosto de ter tudo planejado meticulosamente... hoje penso, como foi que consegui me entregar assim à experiência do parto? Penso que é porque justamente não pensei...

Ai também eu lembro de como começou tudo... pois na verdade verdade, Mercedes nasceu em dezembro de 2013, quando decidimos que não continuaria a tomar a pílula anticoncepcional, e que começaríamos a nos preparar, e eu principalmente a preparar meu corpo, até que decidamos engravidar...

Coincidiu que na ONG donde trabalhava no momento estava por começar um projeto de divulgação e conscientização sobre o parto humanizado, então tive acesso não apenas a informação, mas a pessoas chave na cidade de Belo Horizonte que poderiam me informar e assessorar sobre isso...  As meninas da ONG Bem Nascer, parceiras do projeto, em especial a Daphne, me deram dicas muito valiosas, dentre elas, a indicação de um médico que me acompanharia com respeito e carinho. Ao fazer a primeira consulta já amei... disse para ele que ainda não pensava engravidar, mas que planejava em um futuro mais ou menos próximo, e que necessitava ter um médico de confiança, principalmente para o parto. Quando ele me disse que para ele o melhor parto é aquele que menos intervenção do médico tem, ali “me conquistou”!

Enfim... depois de bastante coisa acontecer durante um ano, Mercedes nos chamou e já logo na primeira tentativa ela se instalou na minha barriga!

Foi uma gravidez muito tranquila, sem mal-estar, muito consciente e muito querida. Acho que isso ajudou muito na hora do parto. Agora sim o relato!!!

Começou no dia 22 de setembro, embora nos dias prévios já falava para meu marido, um pouco brincando um pouco sério: “acho que é hoje” rsrsrsrsrs. Mas enfim, no dia 22, terça feira, terminei de fazer as lembrancinhas, arrumei o mosquiteiro do berço, e coloquei uns enfeites na parede do quarto que acabavam de chegar pelo correio... Ao meio-dia, meu marido voltou para almoçar e comentei com ele que tinha uma secreção diferente esse dia, e brincando disse que meu tampão mucoso devia estar soltando... eu esperava sinceramente para dia 27, que aliás haveria lua cheia e era a data prevista mesmo... passei o dia numa mistura de cansaço e empolgação arrumando o quarto da bebê. À noite comecei sentir dor de barriga, e fui ao banheiro repetidas vezes durante a noite tooooooda. Dormi muito mal, mas achei que fosse simples desconforto. Quando deram as 6 da manhã já comecei com umas cólicas estranhas... ai lembrei na hora do que o médico me disse... Numa consulta ele me explicou sobre as contrações de ensaio, falamos muito sobre isso. Logo me perguntou se saberia a diferença entre essas contrações e as de trabalho de parto... e me disse para não preocupar, que quando essas chegaram as reconheceria rapidamente rsrsrsrs, foi isso mesmo!

Esperei um pouco, tentei entender mesmo o que estava acontecendo... quando meu marido começou a se arrumar para ir trabalhar, pedi para ficar e disse novamente, dessa vez para valer: “acho que é hoje  mesmo”... esperei mais um pouco e já mandei mensagem para as doulas. Como sou muito prevenida tinha dois! Uma na Argentina, tia Claudia do coração; e Lena aqui, que me acompanhou muito carinhosamente. Quando já eram 9 horas, depois de ter tomado banho, caminhado, sentado, relaxado e tudo mais, as contrações continuavam ritmadas e cada vez mais intensas, então já liguei para o médico e fui fazer consulta. O mais legal é que não me assustei, nem fiquei nervosa, novamente sentia uma mistura de empolgação com frio na barriga e cansaço.

 O trajeto de casa ao consultório me pareceu eterno! A cada lombada parecia que dilatava um centímetro mais! Quando chegamos no consultório já tinha 5 cm de dilatação... ops! Ai realmente caiu a ficha!!!!!!!!!!!!!! Na hora peguei a guia de internação e fomos para o hospital. Lena estava a caminho também... eu sem entender ainda como estava tão tranquila, sabia que meu Luiz estaria comigo, e Lena e o médico também... eles me ajudariam... quando digo tranquila, me refiro ao parto em si, pois no caminho briguei com uma  moça que atravessou a rua com o sinal aberto para os carros, a chegar no hospital briguei com a recepcionista e depois com uma enfermeira rsrsrsrsrs... sinal de que a bebê nasceria logo, segundo o médico rsrsrsrsrs.

As contrações continuavam, cada vez mais fortes, mas suportáveis... Como não tinha tomado café e estava com náusea não consegui comer nada, de fato vomitei algumas vezes... isso foi o único ruim, pois como estava cansada e sonolenta, não teve muito efeito ir ao chuveiro, sentar na bola... Lena estava com um repertorio enorme de posições e carinhos para acalmar as dores, mas eu simplesmente queria ficar sentada... entre uma contração e outra, conversava com ela e meu marido, relaxava, e até dormitava... nesse tempo Lena me fazia massagens, carinhos, me orientava, a presença dela foi fundamental! Sem ela acho que não iria segurar, pois nunca sabemos até onde “é normal”, se aquilo que sentimos é “assim mesmo”, etc... ela ia fazendo perguntas e acertando em cheio sobre tudo que estava sentindo, e isso me acalmava, sabia melhor do que eu mesma o que estava passando!

Nem senti o tempo passar... estava em uma espécie de letargo... embora com contrações cada vez mais fortes e já sem posição que me conforte.  Só queria ficar sentada e empurrar com as pernas... Lena ou meu marido sentavam nas escadinhas de subir na cama e eu empurrava essa escadinha, isso mais ou menos me ajudava a passar as contrações, mais as massagens e óleos perfumados da Lena.

O médico passou algumas vezes (não lembro quantas nem a frequência)  no quarto para me examinar e tudo parecia ir bem... eu estava entregada ao que meu corpo e Mercedes pedissem.

Por volta das 16 horas já estava exausta e as contrações começaram mudar... mais fortes. Estava entrando já na fase expulsiva. Nessa hora senti bastante dor e até pensei na analgesia. Ai Lena me explicou como seria, e não quis mesmo... estava indo tudo tão bem!

Então fomos para o bloco cirúrgico. É estranho, mas embora mais fortes as contrações, parecia mais facil de suportar, pois o corpo manda o que fazer... a diferença das anteriores, que não encontrava posição e não o que fazer para passar, essas contrações demandavam uma força específica, uma posição específica, e claro... um incentivo de saber que estava chegando a hora!

Sentei na banqueta de parto, com meu marido me segurando pelas costas e ajudando em cada contração. Ficar em pé também ajudava à Mercedes descer, então o Luiz ia na minha frente e eu me abraçava com força a ele, e deixava minhas pernas moles, era impressionante sentir mesmo ela descendo... junto vinha uma pressão no anus, como vontade de ir no banheiro... pouco “romântico” falar isso, mas segundo Lena e o médico, um sinal bom de que estava indo tudo bem. Foi excelente sentir que não tinha presa. Lena e o médico me disseram para não fazer mais força do que o corpo mandasse e que continuasse no meu ritmo... acho que isso ajudou a não ter que cortar e ter o períneo íntegro. Era engraçado o anestesista entrar a cada 5 minutos e o doutor mandar ele embora delicadamente rsrsrsrsrs.

A dor se incrementava, mas entre uma contração e outra recuperava força para continuar.  Tocar a cabecinha da bebê quase fora de mim foi o incentivo final para me entregar a força natural que o corpo faz, e quando achei que não aguentava mais... pronto! Um choro maravilhoso e um corpinho quente encima de mim... depois pronto, não importa mais nada nem existe mais nada, só segurar esse bichinho que olha para você e te conhece, e sentir o amor mais intenso e verdadeiro que existe!