Relatos de parto
MIGUEL
"Sempre escrevi poesias, mas hoje eu escrevo pra falar da poesia que completa meus dias e o sentido de existir, a chegada do meu pequeno ao mundo.
Esta história começa há 8 anos atrás quando conheci meu marido, o Pedro. Desse amor brotou o desejo de casar e ter nossos pequenos e sempre conversamos muito sobre isto. No ano de 2014 eu tomei algumas decisões importantes e fiz uma reviravolta em minha vida. Abandonei meu emprego como psicóloga para montar uma empresa de decoração de casamentos, prestei vestibular para artes plásticas e decidi engravidar. Foi um momento de grandes mudanças, mas eu estava muito firme e certa de tudo que queria fazer. E não teria tomado todas essas decisões sem o apoio do Pedro, meu porto seguro. Acho importante descrever o contexto em que nosso pequeno foi gerado e dizer o quanto desejamos que ele viesse.
Engravidamos na primeira tentativa. Foi emocionante ver o resultado positivo do teste de farmácia. Convocamos a família para dar a noticia que foi recebida entre lágrimas de alegria.
Eu sempre pensei em parto normal, pois minha mãe pariu os três filhos assim. Mas tive conhecimento do parto natural e fui investigar para conhecer melhor. No inicio o Pedro ficou um pouco apreensivo, mas ao pesquisar percebeu que esta seria a melhor forma de trazer nosso Miguel ao mundo. Após tomar esta decisão fomos atrás de um obstetra que aceitasse nosso desejo em relação ao parto. Minha antiga ginecologista já não fazia mais partos e indicou uma colega, mas a mesma sairia de férias no período da data provável. Passamos por outra obstetra que me deixou muito angustiada, pois criticava o parto natural, dizendo que era coisa da época das cavernas e que não fazia parto na água, alem de insistir em dizer que, com certeza, eu iria pedir uma anestesia na hora. Sai do consultório aos prantos e o Pedro tomou a responsabilidade de procurar um obstetra. E foi assim que chegamos ao Núcleo Bem Nascer e à Dra. Avelina. Aí todas as minhas angustias foram aplacadas e fiquei super tranquila pra esperar o dia e a hora que o nosso pequeno amor quisesse chegar. A cada consulta eu ficava mais confiante e Dra. Avelina tirava nossas dúvidas e nos tranquilizava.
Nossa gravidez seguiu super tranquila, sem nenhuma intercorrência. Assistíamos a muitos vídeos de parto na água, que era o nosso plano de parto, e a cada dia a ansiedade aumentava. Finalmente chegamos ao 9° mês (que mais parece 12 meses). Ao fazer um ultrassom de rotina o médico disse que minha placenta era muito jovem e que provavelmente minha gravidez iria se estender por mais tempo e talvez eu não entraria em trabalho de parto, precisando assim de uma cesárea. Fiquei atordoada com a fala do médico, apesar de saber que ele costumava falar coisas do tipo e que eu deveria ignorar. Mandei mensagem para nossa doula (Lena) e ela me acalmou dizendo que isto não tinha nada a ver. Fiquei tão angustiada que liguei pra Dra. Avelina e ela me disse pra ficar tranquila porque isso não ia interferir no meu trabalho de parto e tudo estava caminhando super bem. Fiquei mais ansiosa depois deste episodio. Confesso que os dias iam passando e eu ficava com muito medo de cair em uma cesárea. Esqueci de mencionar meu enorme pavor de cirurgia. Enquanto algumas pessoas tem medo do parto normal, meu maior medo era a cesárea.
Eu e Pedro conversávamos muito, estávamos ansiosos, mas o tempo era do Miguel e tínhamos que saber esperar. Ainda não havia completado as 40 semanas, precisávamos respeitar o tempo do nosso pequeno. Comecei a sentir algumas contrações umas 2 semanas antes, apareciam e desapareciam. No fim de semana decidimos passear no Inhotim, pois sabíamos que andar seria bom para o trabalho de parto. E no domingo fomos fazer um piquenique no parque das Mangabeiras. Na segunda eu já estava me controlando, pensando em relaxar e deixar acontecer, sem pressões. Fui fazer coisas que gostava, aproveitar o tempo, sair com amigas, escrever, desenhar. E então na terça de madrugada acordei 00:30 sentindo contrações. Pensei em ignorar, pensando ser as contrações de sempre, mas por algum motivo resolvi acordar o Pedro. Começamos a contar as contrações. Depois resolvi voltar a dormir, com medo de estar me enganando. Mas foi colocar a cabeça no travesseiro que as contrações ficaram mais fortes. Liguei pra Lena e ela pediu pra eu entrar no chuveiro e ver se as contrações iam permanecer. Elas aumentaram no chuveiro e a Lena disse pra eu ligar pra Dra. Avelina. Fomos pro hospital da Unimed (maternidade) que é pertinho da nossa casa. Chegamos lá por volta de 4:30 e a plantonista me examinou e confirmou o trabalho de parto, 4 cm de dilatação. Estava super feliz! Finalmente nosso pequeno estava chegando! A dor da contração era bem tranquila, como uma cólica. Sempre fui tranquila pra dor e não tinha medo da dor do parto, mais uma curiosidade pra saber como era.
Combinamos de não comunicar a família até que o Miguel chegasse. O parto pra mim é um momento muito intimo que queria dividir com o Pedro. Seria nosso segredinho até que o Miguel viesse pra nossos braços! Subimos para o PPP. A Lena chegou e climatizou o quarto com luz e música suave. Eu estava super tranquila. A dor vinha e logo ia embora. Dra. Avelina chegou e ficamos conversando num clima super gostoso! Me senti em casa. Fomos andar pelo corredor para ajudar no processo. Me sentia tão bem ao ver as pessoas no corredor e ao suportar a dor que chegava. Me sentia meio guerreira. Com o tempo a dor foi ficando mais forte e a Lena ofereceu o chuveiro como forma de alívio. O chuveiro era uma maravilha pra dor, a bola de pilates também. Fui pra banheira com 7 cm de dilatação. Aí entrei na partolândia! Neste momento perdemos um pouco a noção das coisas, mas o engraçado é que eu ainda conseguia ser um pouco racional, mas isso vai de pessoa pra pessoa, é algo muito particular. Até mesmo a dor é algo completamente único em cada um. Resistir a dor era algo muito importante pra mim. Confesso que pensei em pedir anestesia, e os anestesistas ficavam nos rondando e dizendo estar a disposição. Mas pensei em perder o parto na banheira, devido ao acesso, e atrasar o trabalho de parto (pois a anestesia provoca este atraso). Então pensei comigo mesma que eu ia ter que aguentar. Claro que eu ficava resmungando, pedindo ajuda e lembrar disto é engraçado. Eu queria uma solução diferente da anestesia, na verdade o que eu queria era escutar que eu ia conseguir e era justamente o que o Pedro, a Lena e a Avelina diziam: “Calma Lorena, você vai conseguir, já está no final”. Cheguei no expulsivo imaginando que Miguel iria escorregar de uma vez. Claro que não né?! Ele foi descendo devagar, aos pouquinhos e eu ia sentindo a cabecinha encaixar. Lena e Avelina viram a cabeça apontar, toda cabeluda. “Coloca a mão pra você sentir Lorena”. Este momento é inesquecível e ajudou muito a fazer força pra ele sair. Sentir meu pequenino despontar. O Pedro ficou me segurando na banheira, me ajudando a ter força e sustentação. Por fim eu pensei: “Agora vou fazer toda força do mundo” e assim saiu a cabecinha do meu amor. Lembro de pedir pra Avelina puxa-lo, com medo dele afogar. Mas ela me acalmou dizendo que não podia puxar, que ele tinha que sair sozinho. Achei tão carinhoso e respeitoso. Me ajudar a esperar que ele saísse sozinho. E aí ele saiu, nasceu pro mundo! Minha pequena sementinha de amor havia crescido e agora brotava no mundo!
“Pega ele Lorena”, disse Avelina. Eu o aconcheguei nos meus braços e pensei “Meu Deus, tinha mesmo um neném dentro de mim!”. Nem da pra descrever a alegria! É mágico e sobrenatural! É divino! Escutei o Pedro chorando atrás de mim. Seguramos nosso Miguel, os olhinhos abertos nos fitando, nem chorou, só deu um resmunguinho. Chegou no mundo todo tranquilo, numa paz. No tempo que ele escolheu. Achei tão perfeito. Me senti tão forte por traze-lo ao mundo assim. Tão plena! Parece que um anjo toca nossa alma. A dor fica lá longe! No dia seguinte nem lembrava dela.
Pedro cortou o cordão e ficou com Miguel enquanto eu era examinada e paria a placenta. Tive uma laceração mínima. Levei só um pontinho. Amamentei logo em seguida! Momento mágico! Miguel ficou com a gente durante todo o tempo. Depois de algum esforço ele conseguiu pegar o peito direitinho. No inicio é um pouco difícil, mas persistência e as coisas funcionam naturalmente.
A experiência do parto natural para mim foi única! Com certeza meus próximos amores virão ao mundo desta forma, se Deus permitir! Eu só tenho a agradecer a Avelina e Lena por ter nos acompanhado neste momento e ao meu marido, Pedro, que foi a base de toda minha força! O resultado de tudo isto é este amor infinito que agora seguro em meus braços!"