Relatos de parto

Pra fechar a tradição dos relatos de parto enormes (nao foi um parto , mas tá tudo bem!), segue pro meu Beni boy! 

Meu amado Benício,
 
Eu jamais imaginei que escreveria uma carta para o meu terceiro filho. Você não estava nem nos meus mais remotos planos, embora fosse muito desejado pelo papai.
Assim, a descoberta da sua gravidez me tirou do prumo e os primeiros meses foram dedicados a entender a nova configuração da nossa família e processar toda a novidade . 
Nos últimos meses, a mamãe estava ja fisicamente bastante cansada e a rotina com o trabalho e as suas irmãs sugavam toda a minha energia . 
Com 36 semanas eu precisei me afastar do trabalho e iniciar a fisioterapia. Na primeira sessão eu me dei conta que aquela tinha sido a primeira vez que eu parei , respirei e dediquei um tempo só pra pensar em você e te sentir . 
Em uma das sessões eu experimentei diversas posições para o parto natural. Me encontrei na última delas , de joelhos apoiada em um local rígido - exatamente a mesma posição que estava no nascimento das suas irmãs . E naquele momento visualizei seu parto : também seria na água e na mesma posição ! 
Eis que com 38 semanas em um ultrassom veio a notícia : você havia sentado .
Eu fiz absolutamente tudo que pude : acupuntura, moxabustão , cambalhotas na piscina, compressas frias e quentes, posições “spinning babies”. Já estava exaurida. 
E ali comecei a entender que você era único , seu nascimento poderia ser bem diferente e que eu precisava me preparar pra isso. 
Eis que 4 dias depois , você surpreendeu e virou de novo, agora encaixadinho.
A alegria daquele dia foi enorme e se juntou as primeiras contrações que se iniciaram no mesmo dia a noite . 
As contrações foram tomando ritmo e aumentando a força. Acionei vovó e vovô, comuniquei nosso médico e o papai cuidou de separar a mala e documentos .
Só que horas depois as contrações foram perdendo o ritmo até pararem por completo.
Administrando na marra a ansiedade , voltamos à rotina e esperamos mais duas semanas . Eu ansiava por alguma dilatação pra poder descolar membranas e ajudar na entrada em trabalho de parto, porque meu corpo já estava cansado. 

No dia 08 de abril, nosso médico nos avisou que havia dilatação de 2cm e que poderíamos tentar o descolamento. O dia da família da escola era no dia seguinte e resolvi decidir na segunda -feira, 11 de abril. 
E assim, 11 de abril, fizemos o descolamento perto do meio-dia . No meio da tarde comecei a sentir contrações e como a intensidade ainda estava tranquila , papai saiu para buscar as meninas na escola . 
Sozinha , me afastei do celular para concentrar e deixar engrenar um trabalho de parto. 
As contrações foram aumentando a intensidade e de repente você esticou todo, com força , me causando um grande desconforto e “PLOC”: a bolsa rompeu. 
Muita água no chão, líquido amarronzado e eu senti medo. Primeiro porque no parto das meninas elas nasceram logo após o rompimento da bolsa e eu definitivamente não estava preparada pra te receber sozinha em casa . Segundo porque aquele líquido marrom me deu a sensação que algo não estava bem. 
Caminhei muito devagar até o telefone fixo , liguei pro papai e ele acionou nosso médico e correu pra casa . 
Eu não tenho memória disso, mas também liguei para a vovó. Ao que parece , quando meus maiores medos me rondam eu busco meu local seguro .
Em seguida tentei pedir ajuda a duas vizinhas pelo interfone, mas ninguém estava em casa . 
Ainda com muito medo, busquei o celular e liguei diretamente pro nosso médico : e aquela voz tranquilizadora me acalmou e me deu a segurança que eu precisava pra me arrumar e ir pra maternidade .
Chegamos lá e logo nosso médico me avaliou , já pediu uma suíte de parto e me explicou que faríamos um exame do seu coração só pra certificar que tudo estava certo. A dilatação ainda era pouca. No caminho para a suíte de parto , tentou me animar me orientando a subir escada pra ajudar no trabalho de parto . 
Só que o meu coração já sentia um incômodo. E foi então que o seu coração nos mostrou que você precisava nascer mais rápido do que meu corpo poderia te trazer . 
Com toda a confiança do mundo no nosso médico , e chorando por medo , susto e apreensão , fechei olhos e fui rapidamente levada para o bloco cirúrgico, pra ser submetida a uma cesárea de urgência. 
Vários profissionais se apresentaram pra mim e eu apenas foquei em decorar o nome da pediatra. 
Rapidamente me passaram para a mesa de cirurgia , me deram a anestesia e após foram tirando meus brincos , colares e anéis . Nossa doula ao meu lado e eu não via seu papai. 
Pedi ao nosso médico para que ele entrasse e ele me acalmou um pouco. Minutos depois, já bastante nervosa , perguntei pelo papai novamente e nosso médico pediu que o chamassem . Era tudo muito rápido .
Papai entrou e assim que ele se posicionou do meu lado , nosso médico me avisou que iria te tirar e disse com alegria: nasceu! 
Todos naquele bloco te viram, menos eu… 
Nossa doula se apressou e tirou uma foto enquanto a pediatra te avaliava e me mostrou, mas meus olhos não te viam diretamente.
Pedi que me dissessem como você estava e me diziam que estava bem. Pra mim não era suficiente, e então pedi mais alto pra que a pediatra , cujo nome eu tinha decorado, me desse notícias e ela veio , tranquila, dizendo que você estava bem e já seria trazido para o meu colo. 
E então você veio! Lindo, forte , rechonchudo e de olhos puxadinhos e fechados. 
Você chegou , filho, da forma que eu sempre quis evitar : em uma sala cheia de luzes, pessoas que eu não conhecia ,  com a mamãe completamente passiva .

Você chegou , filho! Saudável, forte e lindo! Chegou! E isso era tudo que importava !
Daí pra frente tudo aconteceu como eu desejava . Você ficou no meu colo, você mamou logo depois que nasceu, você abriu os olhos e me viu, em primeiro lugar . 
E eu nunca vou esquecer o magnetismo dos nossos olhares - que por sinal só aumenta . Foi a mais arrebatadora troca de olhares da minha vida , um maravilhoso “imprinting”.
Obrigada , meu menino, pelo esforço de nos dar o sinal que já era hora de nascer e por me inundar com mais tanto amor. 
Hoje eu não consigo mais ver a vida sem você .
Te amo infinitamente!

Mamãe