Relatos de parto

Olivia

Tauana & Diego

Foram 39 semanas e 2 dias a grande espera da Olivia.
Quando descobri que estava grávida foi um mix de sentimentos com muita gratidão.
Lembro que minha sogra me disse: você tem 9 meses para preparar para receber este serzinho que te escolheu como mãe e o Diego como pai. E como isto faz tanto sentido.
Nove meses de preparação, transformação, descobertas, um grande olhar interno.
Acredito que o período de isolamento social devido a pandemia contribuiu para tamanha dedicação, solidão e autoconhecimento.
Distante de muitas pessoas e mais perto do novo serzinho. Maior conexão com o real e como o “novo” que estava por vir.
O silêncio se tornou meu melhor amigo.
Aquela menina mulher falante, atenta com fácil sorriso se calava e observava.
Que mágica.
No início da gravidez busquei me cuidar com mais empenho e carinho, com a rotina corrida nem sempre cuidava tão bem da Tauana.
Sonhava em ter um parto humanizado e natural, assim busquei grandes profissionais para me apoiar nesta caminhada desconhecida.
Neste caminho a minha cunhada, Georgia me indicou a Dra Avelina para me acompanhar durante esta jornada e foi a escolha mais assertiva e gratificante durante todo o processo de transformação.
Dra Avelina uma mulher, firme, empática e excelente profissional. Gratidão eterna!
Com três meses e meio de gestação iniciei a fisioterapia pélvica com a equipe da Sabrina Baracho. Uma equipe composta por mulheres fortes e com uma grande bagagem. Durante a caminhada estas mulheres super poderosas me auxiliaram com bastante conhecimento, pratica e diversos exercícios para o grande momento da minha vida. Gratidão.
O Diego me acompanhou em algumas sessões de fisioterapia, sem ele nada seria possível. Meu braço direito, amigo e grande parceiro. Ele foi essencial, super ativo e presente durante todo o trabalho de parto.
Ju Paz, a musa da Ayurveda, super nutricionista, empática, energia mil... compartilhou comigo todos seus conhecimentos para uma gestação equilibrada fisicamente e mentalmente. Gratidão! E sigo com ela...
Cercada de grandes mulheres para conhecer o novo.
A minha jornada grávida foi tranquila, sem nenhuma intercorrência. 
Todos os ultrassons estavam com tudo dentro do normal. 
Até que no último ultrassom com 39 semanas e 1 dia foi identificado que o percentil abdominal da Olivia havia caído assustadoramente e doppler fetal estava 100%.
 Naquele mesmo dia tinha consulta com a Dra Avelina.
Ao chegar no consultório avisamos sobre os dados dos ultrassons e a Dra Avelina verificou e sugeriu interromper a gravidez. Neste momento comecei a chorar, o Diego ficou branco parecia que ia desmaiar. Foi um grande susto. Algo tinha saído do nosso controle.
Dra Avelina nos tranquilizou e explicou que a indicação dela seria internar no mesmo dia (17/05) as 20:30 e induzir o parto. 
Disse para Avelina: não estou preparada. 
E ela me lembrou que havia me preparado os 9 meses.
Iniciamos o processo minutos depois, Dra Avelina verificou que estava com 2 cm de dilatação e descolou a membrana, senti uma dor “leve”. Saiu um pouco de sangue e o Diego ficou branco mais uma vez, pensei agora ele vai desmaiar. Não desmaiou. 
A Dra Avelina mais uma vez nos tranquilizou e riu: fiquem calmos, está tudo certinho. A Olivia vai crescer aqui fora.
Havia contratado a Leticia da Equipe Empodere, como enfermeira para me acompanhar durante o trabalho parto, mas como o parto seria induzido indaguei para Dra Avelina se seria necessário. E ela me aconselhou que acionasse a Leticia para nos acompanhar no hospital desde a internação e que seria valido todo apoio e acolhimento.
Havia imaginado iniciar meu trabalho de parto em casa, com a presença da Leticia e Diego. As coisas tinham saído do “planejado”. 
Neste momento, senti um frio na barriga, pensei não está sendo como eu sonhei.
Pronto, já havia saído do meu controle. Entreguei e rezei. 
Voltei para casa, arrumei as malas, fiz um escalda pés com a presença da minha irmã e mãe.
Diego ainda estava aéreo e seguiu trabalhando para deixar tudo dentro dos conformes antes de sair de licença paternidade. 
Toda semana eu tenho costume de tirar uma palavra de um baralho de palavras. E a palavra da semana, da semana era CELEBRAR. Tudo fez sentido, iriamos celebrar a chegada da Olivia.
Fizemos um mini altar com os santinhos e pedras. Rezamos e partimos para o hospital.
Estávamos bem tranquilos não tínhamos tanto conhecimento sobre o processo de indução de parto. Confiei muito na equipe e me entreguei.
Fizemos a internação no hospital, fomos para o quarto com a presença da Dra Avelina e Leticia.
Iniciamos a nossa jornada.
Avelina descolou novamente membrana e inseriu um comprimido (MISO) na vagina para iniciar as contrações. Tive que ficar uma hora deitada. As contrações começaram levemente.
Após uma hora fui transferida para Sala de Parto. Fui andando brincando, sorrindo... tudo bem leve e tranquilo.
As contrações estavam muito leves, fiz alguns exercícios para acelerar o processo, mas seguiam bem leves. Neste momento escutamos a playlist do nosso casamento, conversamos e demos várias risadas.
A Dra Avelina sugeriu inserir mais um comprimido e descolou a membrana. Este procedimento dói, tinha vontade de chutar a Dra Avelina. (risos)
Fiquei mais uma hora deitada, as contrações começaram mais ritmadas e fortes. Aguardamos uma hora na cama com dores. Diego me auxiliava com as respirações e a cada pico das contrações ele me abraçava mais forte. Isto me deu muita força e aconchego. 
Leticia, a enfermeira sugeriu seguirmos para o chuveiro para relaxar. Foi ótimo.
Fiquei sentada na bola com a água do chuveiro batendo nas costas, o Diego fez massagens nas minhas costas, seguimos com as respirações a cada contração. Conseguia conversar entre as contrações. Já estava de madrugada, e escutávamos outras mulheres em trabalho de parto.
Diego disse “acho que estamos num manicômio e não numa maternidade”. Escutávamos gritos e choros. Lembro que disse ao Diego: estas mulheres não sabem controlar a dor da contração. É apenas respirar e sentir a onda da contração. Simples né?! 
Estava com 4 centímetros de dilatação.
Não sabia o que me esperava nas próximas horas...
Minhas contrações pararam!
Conversei com a Avelina e ela mais uma vez inseriu o MISO e realizou um mega descolamento, foi uma graaaande dor. Neste momento ela estourou a bolsa. 
As contrações começaram fortes, ritmadas, e mais aceleradas. Sentia muita dor, mas tinha que aguardar deitada. A dor era tão intensa que não conseguia ficar deitada. 
Leticia e Diego me levaram para o chuveiro, não consegui esperar 1 hora deitada.


Massagem, aromaterapia com essência de laranja, água quente nas costas com ajuda bola de pilates, respiração a cada contração, música. Eu me sentia num looping, a dor aumentava a cada contração.
Neste momento lembrei do meu pai, avô a imagem deles me dava muita força e luz, quando lembrava das minhas avós eu chorava pensava o quanto elas foram fortes – que orgulho, gritava minha mãe para me ajudar. Estava fora de mim...  Chamava meu pai e minha mãe. 
O Diego estava sempre ao meu lado, me orientando, auxiliando na respiração, lembrando da minha força. Ele me elogiava a cada momento: isto aí Amoor, você está indo bem, você é forte, já já iremos ver a Olivia. E sempre me lembrava da frase que tenho como um amuleto: “eu quero, eu posso, eu consigo”. Eu repetia a frase, mas quando chegava na parte “eu consigo”, logo começava a chorar. E dizia que não estava conseguindo, e ele me lembrava que eu iria conseguir...
Amanheceu, a dor seguia forte, eu gritava alto, sentia muita dor (lembra do manicômio? E eu estava lá na partolândia). 
Leticia e Dra Avelina sugeriram que eu fosse para a banheira, eu concordei.
Pensava que ia morrer, pedia para ir embora da maternidade a cada fim de contração. O Diego dizia nós vamos embora, mas com a Olivia nos braços, eu concordava. Mas seguia repetindo...
Quando entrei na banheira, me senti um tubarão no aquário. Comecei a jogar água para cima de tanta dor, levantei e comecei a chorar. Olhei nos olhos do Diego e pedi pela milésima vez anestesia e cesária, não aguentava mais, estava no meu limite. Já tinham se passado mais ou menos 10 horas.
O Diego sentiu minha dor. Falei com a Leticia novamente, implorei pela anestesia (era o combinado no plano de parto). Olhei nos olhos da Leticia e ela conseguiu me entender.
A sala de parto ficou pequena, a dor era tanta que não tinha mais lugar, deitei na cama.
Leticia e Diego fizeram massagem nas minhas costas, não adiantava, eu não conseguia relaxar entre as contrações. Lembrava da Sabrina (fisioterapeuta pélvica) para sentir as ondas das contrações, mas não conseguia.
O anestesista não chegava e eu seguia gritando e com dor.
Diego chorou e disse você é forte, neste momento me senti fraca.
O anestesista chegou na sala de parto, me explicou que precisava ficar sem mover, pensei como? E a dor? As contrações tinham um intervalo pequeno, respirei concentrei e tudo certo.
Tomei analgesia, esperava pela cesárea.
A Dra Avelina disse: agora descanse, em algumas horas você precisa estar forte para ver sua filha. Eu chorei e pedi para ela me levar para fazer a cesárea. Ela riu e disse: descanse!
As dores das contrações diminuíram, comecei a sentir frio. Este é o efeito da analgesia.
Tremia, minha pressão começou a cair, chegou a 6/3. Os batimentos da Olivia aumentaram. Neste momento lembrei muito da minha avó Tereza. Dra Avelina monitorou tudo. Me sentia apática e muito cansada. Consegui dar uma cochilada.
Leticia mediu a minha dilatação e disse: você já pode sentir a cabeça da Olivia.  Incialmente não quis sentir, mas logo toquei na cabecinha da Olivia e me deu muita força e garra.
Estava com 6/7 cm de dilatação, seguia cansada, mas com foco e determinação.
Comi um picolé de limão para dar a energia final, levantei da cama. Comecei a fazer agachamentos, tinha de aproveitar a analgesia.
 Sentia que ela estava descendo, neste momento evacuava e urinava.
As contrações eram “leves” devido a analgesia, sentia uma grande vontade de fazer força.
Comecei a fazer força fora da contração, com isto deu um edema de sangue que estava impedindo a descida da Olivia.
A santa Dra Avelina retirou o edema.
O efeito da anestesia acabou, as dores seguiram mais fortes. Olivia estava descendo.
Não tinha posição confortável. Ficava em pé, sentava no banquinho.
Olhava para Dra Avelina e pedia para ela me ajudar a tirar a Olivia. Chorava. Ela me aconselhava para respirar com calma e fazer a força no momento certo. A dor era tanta que seguia fazendo a força constante. Os gritos eram constantes (que vergonha). A Dra Avelina me alertou: você pode gritar, mas faz a força que você aprendeu com a Sabrina.
Dra Avelina e Leticia me perguntaram qual a posição que queria ganhar minha filha, e não conseguia achar a melhor posição.
Quando sentei no banquinho senti que ia ter mil lacerações. Pedi para alterar a posição. A Leticia sugeriu 4 apoios na bola e fluiu.
Chorava, pedia ajuda, comecei a fazer a força correta junto com as contrações. Precisei me concentrar, respirar com calma, e foiiiii. 
Depois de alguns puxos conheci um grande amor: Olivia.
Estava na bola de 4 apoios tive a força do meu parceirão Diego, apoio da Leticia, e me senti segura com a Dra Avelina, a Olivia estava saindo... E a dor insuportável se tornou a maior alegria dentro do mesmo minuto.
A Dra Avelina disse: segura sua filha. Eu não acreditava. Tremia, chorava, sorria, agradecia... 
Diego estava ao meu lado vibrando e aos prantos de tanta emoção.
Peguei a Olivia nos braços as 11:54 do dia 18 de maio de 2021 e ela estava com os olhões abertos fixados em mim. Foi magico. Quanta gratidão. 
Sentamos no chão da sala de parto e aproveitamos aquele momento especial.

 


Finalizei o meu parto sem lacerações e muito grata por TUDO. 
Foram 15 horas de muita dedicação, resiliência, foco e determinação. E acima de tudo amor.
O amor nos move.
Agradeço a todos envolvidos nesta jornada mágica.
Dei a vida a uma VIDA, Olivia.
Seja bem vinda filha.