Relatos de parto

MARIA LUÍSA

Júlia & Augusto

Antes de falar do parto, acho importante falar algumas coisas que aconteceram até o momento dele. 

Descobri a gravidez já bem avançada (aproximadamente 22/23 semanas). Todos os meses anteriores eu não tive nenhum "sintoma" e estava com o implante de anticoncepcional (pelas contas colocado ainda no meu primeiro mês de gravidez). A descoberta foi feita por um nefrologista, sem sintomas e com o volume de urina bem maior que o normal, só poderia ser uma infecção urinário ou algo do tipo. 

Sai do consultório desesperada com duas possibilidades de diagnóstico, gravidez ou um câncer de útero já avançado e direto pra farmácia. Três testes, três positivos. Na época, ainda meu namorado, me perguntou "o que você quer fazer?" e minha resposta foi simples "vamos contar pros nossos pais". Eles receberam a notícia espantados, mas felizes. No outro dia já estávamos fazendo um ultrassom e descobrindo que esperávamos uma menina. Maria Luísa.

Sempre tentei programar minha vida para que eu pudesse atingir meus objetivos. Terminar a faculdade de Direito, casar e depois de uns anos planejar o primeiro filho. Com a descoberta da gravidez, tudo mudou! A incerteza de continuar ou não a faculdade,  a decisão de casar e morar juntos. Junto disso, o medo de não ter tido os cuidados necessários com a gravidez nos primeiros meses e de que isso afetasse a saúde da Maria. Começamos então a busca por um obstetra!

Sempre tive medo de agulha e tinha a certeza de que queria o mínimo de intervenção no parto. Fui em uma obstetra e saí de lá arrasada, escutei que no tipo de parto que eu sempre quis, eu não conseguiria por ter o colo do útero curto e que ainda poderia perder meu bebê. Foi então que minha psicóloga indicou o Dr. Sandro e tive certeza de que ele era a pessoa certa para acompanhar o resto da gravidez.

O início foi corrido, um número infinito de exames para rastrear quais suplementares alimentares precisaria tomar, fazer os ultrassons atrasados e tomar as Vacinas necessárias.

Agora vamos ao real relato de parto.

No dia 03/03, minha fisioterapeuta mediu minha pressão e estava um pouco alterada. Avisei ao Dr. Sandro e ele pediu para me ver no Santa Fé. Chegando lá, descobrimos que estava com 2 cm de dilatação. 4 dias depois estava do 4 cm, contrações a cada 7 min e imaginei que o parto estava bem próximo. Uma semana se passou e eu permanecia com 4 cm e e com 7 min de intervalo de contração.

Sexta-feira, dia 12/03. Acordei cedo para a consulta semanal com o Dr. Saí de lá ainda com 4 cm e frustrada de que se nada mudasse até a próxima semana, talvez tivéssemos que induzir o parto. Cheguei em casa por volta de 9h e decidi dormir um pouco. Organizei algumas coisas e deitei. Alguns minutos depois senti uma pressão pra baixo muito forte na barriga. Dei uma caminhada pelo quarto, o incômodo permaneceu. Decidi então tomar banho e marcar as contrações. Passei o shampoo e a contração veio forte. A cada 3 min uma contração vinha. Avisei meu marido e disse pra ele avisar o Dr. Sandro e minha doula. "Corre pro Santa Fé Augusto, nos encontramos lá!". 

30 longos e doloridos minutos até a maternidade. A Dra. Alessandra já estava avisada sobre a situação e iria me avaliar para adiantar a papelada da internação. Após me avaliar ela pediu que Gus fizesse todos o trâmites da internação e enquanto isso iríamos subir para a sala de parto. No caminho até a sala, eu só repita uma coisa para minha doula Julia, "Preciso deitar!". No primeiro lance de escada a contração veio mais forte e eu deitei ali mesmo no chão da escada. Chegamos na sala e foi difícil achar uma posição que fosse confortável. Deita, senta, agacha, caminha, senta na bola e vai pro chuveiro. Comecei a ficar com medo de não aguentar a dor e a Ju (doula) repetia "Você consegue Xuli. Você é forte!". Depois de 10 min, Gus chegou na sala e eu estava no chuveiro. A banheira estava enchendo (bem lentamente kkkk) e eu que afirmei pra Ju (doula) que não queria parto na água só queria relaxar na banheira.

 

Dr. Sandro chegou e com um balde foi terminando de encher a banheira. Quando me avaliou, 9 cm de dilatação. "Quando a contração vier e você sentir que deve, empurre!". O período expulsivo começou e com ele muito calor. Pedi água e um picolé. No intervalo já curto das contrações o picolé me acalmava, Gus me incentivava, Ju me relaxava e Dr. Sandro me dizia pra imaginar a Maria em meus braços. Escutei Dr. pedindo pra chamar a pediatra. Já estava na famosa "partolândia", ficando cansada e entre as contrações falava "Por favor Malu! Me ajuda.". "Júlia quando a próxima contração vier, se tiver vontade empurre". "Estou vendo os cabelos dela". Três puxos, sentia a passagem se abrir e nada. Gus me incentivou mais uma vez "Ela está vindo Ju, você consegue. Aperta minha mão.". No quarto puxo, Maria começou a sair. Respirei fundo e olhei pra ela. Duas voltas de cordão no pescoço e no impulso me aproximei do Dr. para facilitar desenrolar. Alguns segundos de tensão, Maria respirou fundo e chorou. Aproximei ela do meu peito e a sensação foi de conforto. Analisei cada traço dela enquanto Gus se preparava pra corta o cordão. 

 

Maria Luísa chegou às 13:14 do dia 12 de março. Pesando 2,980 quilos e medindo 47 cm. Ao som de In my place do Coldplay.

Já deitada na cama e com ela ainda no colo. Só pensava na felicidade por ter tido o meu tão sonhado parto natural e a gratidão por quem estava presente ter respeitado e apoiado o meu sonho do início ao fim. 

 

Agradeço primeiro ao Gus que foi minha força, incentivo e ponto de equilíbrio nos momentos de ansiedade. "Eu e você contra o mundo". 

Agradeço à Ju, minha amiga desde a infância, que conciliou com sobrecarga da faculdade de Medicina um curso de doula somente para me acompanhar na chegada da Maria.

Agradeço por ter encontrado o Dr. Sandro que me trouxe a calma necessária para o momento do parto e me tranquilizou sobre os medos (agulhas, cortes e uma possível cesária disparavam meu coração sempre que pensava).

Não posso deixar de agradecer os não presentes, mas que também foram peça fundamental pra me deixar mais segura com relação ao parto e preparada para a maternidade.

Agradeço à Jéssica, minha psicóloga, que além de me apresentar ao Dr. Sandro, também me ajudou a lidar com medos e inseguranças que as vezes tiravam minha paz.

Agradeço à Yasmin, minha fisioterapeuta, que me deu a melhor preparação para que meu corpo pudesse trazer a Maria ao mundo.

Agradeço à minha família por ter cuidado de mim e se fazer presente mesmo fisicamente distante por causa da pandemia.

Agradeço ao meus pais pelo suporte e acolhimento que me deram desde o positivo. Obrigada por serem meu abrigo.

Sou muito grata por ter encontrado pelo caminho pessoas que não só abraçaram o meu sonho de parto natural e humanizado, mas respeitaram todas as minhas escolhas.

Por fim, agradeço à minha filha Maria Luísa por me mostrar que a vida pode trazer coisas melhores que os planos que fazemos. Malu não foi planejada, mas em momento algum deixou de ser desejada.