Relatos de parto

Helena

Giselle & Lafaiete

As 14h30min eu estava dormindo e começou a sair um líquido. Acordei sem saber se era a bolsa ou se eu estava fazendo xixi sem ver. Corri para o banheiro achando que era xixi, mas não consegui fazer. Quando levantei saiu mais. Chamei o Lafa e avisamos ao Dr. Renato que perguntou pela as características do líquido e falou para esperarmos um pouco mais e observarmos se eu entrava em TP espontâneo. O Lafa foi terminar algumas atividades do trabalho e eu fui terminar as malas que ainda faltavam coisas e arrumar algumas coisas em casa. Até então só sentia cólicas leves, como quando sabia que ia ficar menstruada. Seis horas depois Dr. Renato pediu para eu ir para me avaliar. Fomos ele fez um ultrassom e estava tudo bem com a bebê. Então decidimos iniciar a indução, com um comprimido de prostaglandina para preparar o colo. Voltamos para a casa, com a intenção de aguardar três horas para retornar à maternidade e aplicar mais um comprimido. Comemos, o Lafa conseguiu ir descansar um pouco, mas antes que se completassem as três horas o médico me ligou e perguntou se queríamos ir já, pois a maternidade estava lotada e ele havia conseguido um quarto. Então fomos rápido e a esta altura as contrações já haviam iniciado e vinham tomando ritmo. Já no hospital, tomei banho de chuveiro e fui procurando por posições que ajudassem a aliviar a dor. Sentia a dor irradiar para a perna e a posição de quatro apoios na maca me trazia algum alívio. Enquanto isso liberou uma suíte de pré e parto, onde eu poderia ficar até o nascimento da bebê, ao invés de ter que ir para o bloco caso continuasse no quarto pequeno onde estávamos. Mas para isso precisamos aguardar no corredor até que higienizassem a suíte. Então as contrações já estavam cada vez mais fortes, frequentes e acompanhadas de enjoos. Na hora que vinham segurava no Lafa, que me apoiava e andava comigo, quando falei com ele que ia pedir analgesia. Quando se espaçavam um pouco mais eu me encostava-se a ele e dormia um pouco, pois já estava exausta. Acho que isso era por volta de umas 04h00min da manhã. O Dr. Renato veio, pedi analgesia, pois percebi que além da intensidade da dor eu precisava descansar um pouco. Ele me perguntou sobre a intensidade da dor e eu falei algo em torno de sete, então me examinou e eu já estava com algo entre quatro e cinco cm de dilatação. Então tomei a analgesia, pude dormir e depois comer um pouco. Quando acordei já tinha atingido algo entre oito e nove cm de dilatação e começamos a trabalhar no direcionamento da força para a descida da bebê. Eu ainda estava confortável na posição de gasping e deu para conversar sobre história do parto (rsrs) e pensar em experimentar outras posições no expulsivo. Na posição mesmo na maca movimentava o quadril. Dr. Renato então me perguntou se eu ia querer mais analgesia porque o efeito estava próximo do fim. Eu ainda estava confortável, mas ele ponderou comigo sobre o tempo entre a decisão, à vinda do anestesista e o efeito e, pensando no benefício da primeira dose, resolvi pela segunda. Então tive uma leve diminuição na percepção das contrações, mas ainda as percebia e me concentrava pra dirigir a força quando vinham. Então decidimos por um pouco de ocitocina para que não se prolongasse muito. E também seria necessário o uso de antibióticos, pois já se aproximava de 18 horas de bolsa rota. Dr. Renato então disse que teríamos um tempo para começar a trabalhar no expulsivo, que eu poderia descansar mais um pouco, que estaria ali por perto e logo voltaria (ledo engano). Foi então que as contrações e os puxos rapidamente vieram e se tornaram subsequentes, sem intervalos. Eu que esperava pelo meu descanso comecei a sentir uma enorme pressão e dor no períneo e comecei a gritar intensamente. O Lafa foi chamar o Dr. Renato, mas a enfermeira que veio para aplicar o antibiótico mostrou para ele que já podia ver a cabecinha da Helena aparecendo. Foram chamar o Dr. Renato e ele achou que era engano quando disseram que a paciente dele estava dando a luz. Eu apenas gritava que a dor não parava e achava que não suportava mais. Pude sentir o “círculo de fogo” e me via numa situação em que não poderia sair. Então pensei que o único jeito seria me entregar e fazer de tudo para que Helena viesse o mais rápido possível. Tinha colocado no plano de parto que queria tocar sua cabeça quando aparecesse, mas na hora eu só queria que ela saísse e recusei (me arrependi um pouco depois de não ter feito, assim como de não ter pedido para filmarem, queria ter visto “de fora” como foi e ter uma recordação melhor de tudo). Dr. Renato falava que já havia saído metade da cabeça, mas para mim não terminava. Mas nisso, meu período expulsivo durou menos de uma hora. Então pude sentir sua cabeça e o resto do corpo sair e Helena chegou, comigo em posição de gasping na maca. Nasceu um pouco cansada, mas se recuperou rápido e veio linda e tranquila para o meu colo e o Lafa e eu ficamos ali, admirando. Já não sentia mais nenhuma dor. Depois partimos para a placenta, com a ajuda do médico, o que foi um pouco incômodo, mas longe da dor do parto. Tive laceração superficial que precisou de poucos pontos.

Confesso fiquei um pouco assustada com a dor do expulsivo. Foi bom o fato de ele ter sido rápido, mas eu tinha esperado um descanso antes, um “aviso” de que ele começara, mas ele veio com tudo. Durante o trabalho de parto lembro-me de ter o pensamento “o que fiz da minha vida”. Pensei que seria loucura querer aquilo de novo. Sai com a impressão de poder escrever um tratado a respeito. Acho que o parto é uma experiência tão única que só é possível vivê-la, não da para explicar, não da para lembrar depois da mesma maneira. No fim acho que eu tive um parto lindo e de sucesso. Alguns dias depois agradeço por poder ter passado por isso e penso, quem sabe, talvez repetir a experiência (outras vezes acho que não).

 

Depois veio a montanha russa do pós-parto. Passei por um blues puerperal significativo. Sentia-me num buraco, cansada do parto, com uma vontade de chorar sem controle, revivendo o que havia acontecido. Mas nada disso me atrapalhou a cuidar da minha filha, com todos os desafios que vieram. E minimamente de mim, que tive uma boa recuperação. Mas pelo fim da primeira semana as coisas foram se ajeitando, melhorando. Os desafios, as descobertas continuam. E eu faria tudo de novo.

 

 

Quero aproveitar e agradecer ao Dr. Renato pela assistência maravilhosa. Se ele já foi cuidadoso e atencioso durante o pré-natal, todo o cuidado foi redobrado à medida que se aproximava o parto, durante e após o parto. Na discussão do plano de parto me senti segura de que minhas escolhas seriam respeitadas e de que também estaria bem assistida se algo saísse do planejado. Lembro-me dele dizendo, ao falar sobre os sinais falsos de TP, que se era importante para mim, seria para ele. E o acolhimento que recebi no retorno pós-parto me fez sentir bem e fortalecida para seguir.