Relatos de parto

Maya

Geórgia & Guilherme

Minha segunda viagem 

Soube o dia que te concebi, senti um frio na barriga. Dias depois: positivo! Alegria, cansaço, dúvidas, insegurança, certeza de ter escolhido o que era certo, ou simplesmente o que eu tinha desejado. Uma irmã para minha pequena. Quanta graça. 
Mas a segunda viagem é beeeem diferente da primeira. A experiência conta sim, mas agora, já tem um sendo carregado nos braços. Surgem dúvidas: serei capaz de amar igual, darei conta de me dividir mais uma vez, onde estará meu eu após mais essa viagem se ainda não o resgatei após a primeira? 
O tempo não permite mais questionamentos. Os dias são avassaladores, não esperam que você se prepare. Tudo passa mais rápido, vem a culpa de não fazer como foi da primeira vez, a barriga aponta antes da hora e o corpo assume um ritmo diferente do seu. Totalmente incoordenado, desconexo, amplo. Não tem dessa de não pode pegar peso, não pode dirigir, tem que ter cuidado com os esforços, cuidar da alimentação... tudo sai desplanejado. E aí, chega o momento do nascimento. 9 meses me preparando para esse encontro. Preparo físico, mas muito mais emocional. Entrega! Entrega às sensações que viriam, à nova experiência, ao novo encontro. E como não comparar? Como não desejar que fosse igual ou diferente da  primeira vez? Como não criar expectativas? Mais uma vez, entrega. Missão enobrecedora, evolução espiritual. E assim, fui me preparando para essa entrega. Tive muita ajuda no caminho. Toda minha equipe participou desse processo. As pessoas mais marcantes, sem dúvida alguma, Sabrina e Rachel. Dois seres anjos que se dedicaram aos meus cuidados, escuta, desabafos. Cuidaram do meu corpo respeitando seus limites e atendendo suas demandas. Cuidaram das minhas emoções mais profundas com uma escuta respeitosa e uma presença segura. Vários percalços no caminho: dores, desconfortos, azia, refluxo, ganho de peso maior que o desejado. Percalços esperados. Mas uma hérnia de disco com imobilidade completa? Ninguém esperava por isso. Sobrevivi. Requisitei toda minha rede de apoio: marido, mãe, sogra, cunhada, ajudante, equipe. Pessoas especiais que sem elas, não teria dado conta desse obstáculo. Chegaram as 41 semanas e 1 dia: o nascimento! Que experiência! “Inrelatável” “inenarrável”. Que vivência mágica, divina. Que viagem sem volta. Segue minha tentativa em descreve-la. 
A primeira contração foi as 3:30 da manhã. Levantei da cama do quarto da minha filha mais velha ainda muito sonolenta com duas sensações contraditórias: alegria de iniciar o trabalho de parto e falta de energia física em “reviver” tantas sensações dolorosas. Tomei banho quente e demorado na presença de contrações altamente dolorosas, andei pela casa rezando e tentando me entregar para viver as sensações aceitando-as. Ouvi, mais uma vez, como um mantra, o áudio que a minha querida amiga e fisioterapeuta Sabrina gravou especialmente para mim sobre percepção e aceitação  do corpo e das transformações; sobre desbravamento e coragem; sobre a mulher forte e, também, divina que há dentro de mim; sobre ser, estar, confiar, entregar, aceitar e agradecer. Tive certeza, mais uma vez, que estava pronta e que meu corpo saberia o que e como fazer em seu tempo. Chamei meu marido que, ainda sonolento disse: se arruma que já vamos sair. Me arrumei, já com o tens ligado, chamei minha mãe, liguei pra Dra Avelina e saímos para a maternidade Neocenter. Cheguei lá as 6:30. Na recepção, entre as contrações, avisei que seria rápido e pedi para preparar a banheira assim que possível. Fui avaliada por um médico de plantão que me disse que estava com 5 cm de dilatação, ainda. Passou tanta coisa pela minha cabeça em relação à dor, analgesia, tempo até o momento expulsivo... entre as contrações tentava relaxar, respirava profundamente e me lembrava fortemente de todo o preparo físico e mental que me guiava até aquele momento. Meu corpo dizia que estava na hora e eu o escutava gentilmente. Subimos pra a sala de pré parto porque as suítes já estavam todas ocupadas. Os enfermeiros abriram a banheira e começaram a enche-la. Eu encontrei uma posição de conforto diferentemente do trabalho de parto anterior em que eu estava focada e extremamente ativa. Preferi ficar deitada de lado recebendo a massagem do meu marido e da minha mãe e aguardando a chegada da minha médica. Teve playlist, vela acesa, risadas e aiaiais. Enviei uma mensagem a minha médica dizendo que queria ela comigo. Em minutos ela chegou e me avaliou: 7-8cm e cabecinha alta. Não podia ser, pensei. Meu corpo dizia que era hora. Ele gritava alto. Eu Estava no auge da dor pélvica, estava sentindo claramente meu púbis abrindo e Maya descendo pelo canal de parto. Próxima contração, virei de 4 apoios e a bolsa rompeu jorrando líquido por toda a maca e chão... foi o primeiro puxo. Avisei que Maya estava nascendo. Mesmo não completamente dilatada, mesmo com a cabecinha alta. Eu ouvia meu corpo, podia ter claras sensações. Não era a primeira vez e ele sabia o caminho. Minha médica foi trocar de roupa e assim que a contração acabou levantei-me e entrei na banheira. Fiquei debruçada de 4 apoios e minha médica veio imediatamente e ficou atrás com a mão no meu períneo protegendo-o e eu disse: “está nascendo”! Ninguém acreditava. Tudo muito rápido. Tive um puxo bem forte e a cabecinha da Maya saiu. Dra Avelina disse: você que irá segurá -la. Me emocionei, coloquei a mão na cabecinha dela e pude sentir seu calebinho nadando na água quente, uma cabecinha macia e suas orelhinhas bem pequenininhas. Ela parada ali no meu corpo ainda aguardando seu momento e eu disse: “venha minha querida filha, estou aqui pra receber você”. Próximo puxo e Maya nasceu. Sem esforço consciente algum, sem pânico da dor na fase expulsiva, recebendo e aceitando todas as sensações. Quanto milagre. Que encontro mais esperado. Que abraço mais gostoso... Deus presente ali no nascimento, nossa Senhora me amparando em seus braços e me dando condições de fazer o mesmo pra minha filha. Nenhuma palavra conseguiria traduzir os sentimentos desse momento. Maya nasceu as 7:39 da manhã de uma manhã chuvosa, tranquila, em seu tempo. Gratidão é a palavra que mais se aproxima dessa experiência. Pela vida, pela minha saúde, pela presença do meu marido e minha mãe, pelos profissionais que me cuidaram com tanto respeito e escuta, pela minha rede de apoio, por ter tido condições de esperar o tempo certo, por ter conseguido me entregar tão inteiramente à essa vivência. Por viver Deus em mim.