"Que os anjos digam amém! Esta foi a exclamação de Maria Rodrigues ao listar o parto dos seus sonhos. Ela é uma das gestantes que participou da última edição do “Curso de Preparação para o Parto Humanizado”, promovido mensalmente pelo Núcleo Bem Nascer, na Associação Médica de Minas Gerais. Aconteceu na última quarta feira, dia 13 de maio. Começou com uma roda de apresentação, coordenada pela jornalista Cleise Soares e a doula Vanessa Aveline (foto a direita), que falou sobre a participação da doula no processo de parturição e respondeu as perguntas dos participantes. O auditório recebeu 40 casais grávidos, sedentos por informações sobre gestação, parto e nascimento.
Desta vez, o relato de parto foi feito por Tayana Lisboa, de 25 anos, que pariu Helena com a assistência do Dr. Marco Aurélio Valadares. Ela compartilhou com os presentes sua emocionante experiência.
‘Uma coincidência’
“Nasci com Dr. Marco Aurélio, o encontrei por indicação de uma amiga. Fui nele e amei. Quando comentei com minha mãe, ela perguntou: quem é? Eu respondi: Dr. Marco Aurélio Valadares. Você nasceu com ele, respondeu.
Ele começou a me acompanhar desde o primeiro mês de gestação, com minha mãe e minha doula. Desde criança pensava, criança tem que nascer de parto normal. A gravidez foi super tranqüila. Marco Aurélio me falou das opções: parto na água, parto de cócoras, parto natural, com ou sem analgesia. Tive dois amigos que tiveram nenê de parto natural na água. Comecei a assistir filmes. Achei sensacional. Eu quis parto normal e combinei com Marco Aurélio que a gente ia tentar. Teria da maneira mais segura. Deu tudo certo. Tive Helena com uma semana de antecedência.
Saímos para almoçar. Domingo senti uma cólica. Pensei, foi o ‘fondue’ que comi ontem. Disse para a minha mãe: estou passando mal. Ela atentou. A dorzinha foi ficando mais intensa quando a noite chegou. 11 horas da noite. Não é o ‘fondue’, pensei. Comecei a marcar as contrações no aplicativo indicado por Marco Aurélio. 3 horas, pode ligar para o médico. Duração de 1 minuto, intervalo de cinco minutos.
Estava de 6/7cm quando fui avaliada no plantão. Tive na Maternidade Santa Fé. Dr. Marco Aurélio foi para lá. Ainda não tinha ainda contatado a doula. Pedi, liguem para minha doula (Lena Rúbia). Meus pais também estavam lá. Fomos para a banheira, fiquei fazendo movimentos. A doula chegou com uma malinha rosinha e transformou o ambiente, que encheu do cheiro de capim limão, música, bola, ambiente relaxante. Fizemos vários exercícios – fiz Pilates na gestação – começamos a exercitar. Ela é uma pessoa extremamente doce. Meu pai, minha mãe e o Dan ficaram comigo na banheira, ele sentado no deck.
Às 9h25 Helena nasceu. Foi rápido. Foi exatamente do jeito que queria. A bolsa estourou só quando ela saiu. Passei a mão e senti a membrana; a cabecinha ficou protegida o tempo todo. Minhas amigas disseram: não acredito, sem anestesia? No final, tive vontade, mas o Marco Aurélio falou: você já está com 10 cm. No final não tem que fazer força, tem que relaxar, na hora que parei de travar, Helena nasceu. Deixei a dor vir. Ela veio e a Helena nasceu. Meus pais acharam a coisa mais linda.
Meu pai estava muito agitado. Minha mãe comentava - como vai ser isto, será que ele vai querer ver? Ele dizia, não, ela pode ficar constrangida. No momento, eles ficaram no sofazinho. Algumas vezes eu precisei deles, olhar para eles me ajudava. Doula eu recomendo, foi fundamental!
Helena fez oito meses, uma princesa forte, mamando até hoje. Voltei a trabalhar com 4 meses, tenho sorte de ter a minha mãe. Foi bom demais!
Obstetra avô
Dr. Marco Aurélio Valadares (na foto ao lado) acrescentou: “a mãe dela teve o parto dentro de um modelo tradicional, há 25 anos atrás. A gente vai mudando. O mais importante foi ter participado deste processo. Precisa mais pessoas incorporarem nesse trabalho. Foi muita coincidência ela ter me encontrado. Estou tendo a experiência do obstetra avô, muito importante. Fiquei muito feliz com esta história. Ela viveu uma experiência fantástica!
Cuidados com o bebê
Soraya Nogueira iniciou sua palestra com um elogio ao Núcleo Bem Nascer: “Vejo o empenho de vocês e como se preocupam em dar uma boa assistência”. Ela é contemporânea do Dr. Marco Aurélio Valadares e trabalha há muitos anos na Maternidade Santa Fé, sempre recebendo com respeito às crianças que estão chegando. Deu valiosas dicas para os casais presentes na palestra “Cuidados com o Bebê”.
“Os cuidados com o bebê começam ainda dentro do útero. “Fazer um bom pré-natal, um plano de parto, uma alimentação saudável, atividades físicas e estabelecer momentos de conexão com o bebê. Nesta vida corrida, às vezes não dá tempo de pensar no bebê”.
“O parto é traumático para o bebê. Ele sai de um ambiente líquido para um cheio de ar. Se puder fazer uma transição tranquila, vai sentir menos. O ambiente deve ser acolhedor, com pouca luz, o mais natural possível”, recomendou. Enfatizou a importância do contato pele a pele, “mesmo na cesárea” e da presença do pai ao lado da mãe no momento do nascimento.
Como fazer deste parto um evento menos traumático?
“Demorar para cortar o cordão umbilical, previne a anemia e melhora a oxigenação. Na maior parte das maternidades, há o procedimento de rotina de levar o bebê para pesar e medir logo depois do nascimento evitando o contato pele a pele. Ele favorece a liberação do hormônio ocitocina e a descida do leite”
Uma dica
“O bebê recém-nascido é totalmente dependente. Acolhimento é essencial, um ambiente tranquilo. Evite muitas visitas e idas a Shopping. Depois dos três meses seria melhor. Durante um mês é bom ficarem quietinhos em casa.”
Amamentação
“Leite materno exclusivo até os seis meses, não precisa dar nem água. Não é fácil amamentar” – admitiu – “a primeira semana é a mais difícil. Persevere, pois vale à pena! Quando você amamenta, não é só o leite, o alimento, há uma troca de sentimentos. Procure ficar mais tranquila e evite falar ao celular.”
Soraya deu dicas para o banho do bebê, o trato com o umbigo, as primeiras fezes... “Bebê recém-nascido dorme o dia inteiro, de 15 a 20 horas por dia. Só acorda quando se sente incomodado. Alguns bebês evacuam todos os dias, outros ficam alguns dias sem evacuar porque absorvem tudo. O choro comunica alguma coisa, não deve ser ignorado. Pode ser fome, frio, calor, sede, fralda molhada, roupa incômoda, excesso de estímulos, necessidade de aconchego”
Cólicas
A cólica é o bicho papão e não tem muito remédio, acontece com freqüência por causa da imaturidade do intestino; nos primeiros três meses e quase sempre entre 18 e 22 horas. Quando é cólica, não há dúvida. O choro é forte, o bebê fica vermelhinho e contrai as perninhas. Massagens abdominais ajudam.
Apontou as causas mais comuns: técnica incorreta de posicionamento na amamentação, imaturidade intestinal, as fórmulas (leite artificial), a ansiedade materna, entre outros.
O que fazer?
Melhorar a posição de amamentar, fazer massagem abdominal no bebê, colocar compressa morna na sua barriguinha ou posicioná-lo com a barriguinha para baixo. Reações comuns: soluços, espirros, obstrução nasal, regurgitamento e reações na pele.
Levar o bebê para tomar sol de 10 a 15 minutos todos os dias.
Que os anjos digam Amém!
Durante o intervalo, alguns casais falaram sobre o Curso.
Michelle Fusyama e Marcelo Fusyama estão grávidos de 16 semanas e são assistidos por Dr. Renato Janone. Ela disse que está “adorando, muita coisa que estou descobrindo, não tinha noção. Já tinha pensado na doula e aqui tive mais informações. Estamos vindo de outro médico. Achei o meu lugar”. Marcelo admitiu que não tinha pensado ainda na pediatria: “tudo novidade. Eu respeito o que ela quer, tenho que dar apoio”.
Marijane Botelho e Nelson Rodrigo estão de 4 meses, assistidos por Dr. Sandro Ribeiro.
“Sou mãe de primeira viagem, assuntos sobre pré-natal, para mim tudo é novo. Estou trocando de obstetra. Ele foi claro, só faço cesárea. Minha professora de Yoga indicou o Núcleo Bem Nascer. Ainda vou consultar com Dr. Sandro. Para mim, o mais importante é a segurança. Vi a interação dos médicos, a mesma filosofia mais natural. Isto pesou: a segurança, a equipe coesa, os procedimentos naturais. A palestra foi bastante proveitosa, deu para tirar várias dúvidas. Meu marido morre de medo de ver sangue; se for natural, ele topa me acompanhar”. “Cesárea é bastante agressiva, não daria conta”, admitiu Nelson Rodrigo.
Karina Collaço e Wilson Souza esperam o filho Juan; estão com 37 semanas e fazem pré-natal com Dr. Renato Janone.
“Hoje estou vindo pela primeira vez” – relatou Karina – “sonho um parto natural. Vou para o Hospital Sofia Feldman por ser referência. Já fui a uma consulta com Dr. Janone; ele é muito tranquilo e falou muito bem de lá”.
Mariana Rodrigues Costa Moura e João Paulo Pedrosa Moura aguardam a chegada da filha Maria Gabriela. Estão com 26 semanas e estão sendo assistidos por Dra. Avelina Sanches.
“Adorei, muito informativo, explicações claras sobre a gestação. Não usam palavras difíceis, informações acessíveis. Gostei da organização” - apontou Mariana – “sonho um parto natural, que seja eu e meu marido, a doula e a médico. De preferência na suíte de parto, na banheira, no banquinho ou no chuveiro; quero viver as dores do parto e vou conseguir vivê-las. Quero poder andar, comer, beber água; não quero anestesia,quero toda a ambientação de parto; aromas, chuveiro, luz baixa. Que os anjos digam Amém!”
A Hora H
O Curso contou com a participação da obstetra Alessandra Cotta que falou sobre “A Hora H” e deu dicas fundamentais para os casais presentes.
“Trabalho de parto é uma coisa trabalhosa, senão não chamaria ‘trabalho’ de parto. Hoje se fala muito em parto humanizado. O que vem a ser isto? Primeiramente, é o respeito à mulher e ao bebê. Um termo melhor seria parto respeitoso. Não é só um tipo de parto. A ‘Hora P’ é um processo que tem a mulher como protagonista do parto. É respeitar a escolha da parturiente e fazer um atendimento centrado na mulher e no bebê. Conversar com a gestante, escutar suas dúvidas.
“A doula é uma figura muito importante e faz parte da equipe multidisciplinar. O ambiente deve ser silencioso e favorecer o contato pele a pele após o nascimento mesmo na cesariana”.
Quando ir para a maternidade?
Esta é uma dúvida muito frente. Segundo Dra. Alessandra, deve-se observar os sinais de alerta: contrações mais freqüentes, a perda do tampão mucoso; se a bolsa romper, ligar para o obstetra. Perdeu o tampão? Não significa que entrou em trabalho de parto, mas que está próximo. Prepare-se para o parto com respirações e relaxamento”. Falou sobre o parto de cócoras: “O parto mais antigo; as evidências científicas mostram que é menos doloroso e dá menos complicações. Na posição deitada, horizontal, há menor vascularização. O parto de cócoras é mais fisiológico e conta com a ajuda da gravidade.
Apontou para os participantes os
10 passos para o sucesso do parto normal:
1 – Ter uma acompanhante de livre escolha (companheiro, familiar, amiga), para dar apoio e segurança.
2 – Visitar o local onde terá seu parto e se informar sobre procedimentos adotados.
3 – Receber assistência individualizada para evitar intervenções de rotina, como o soro com ocitocina, restrição de movimentos, episiotomia (corte no períneo) e outros.
4 – Ter atendimento qualificado por profissionais de saúde que avaliam o bem estar físico e emocional da gestante e do bebê.
5 – Receber assistência respeitosa, ter privacidade, ser ouvida e atendida em suas necessidades pessoais.
6 – Ter liberdade de caminhar, sentar e adotar as posições que desejar durante o trabalho de parto e parto.
7 – Receber líquidos (águas, sucos e chás) durante o trabalho de parto, pois este pode durar muitas horas e a mulher precisa de energia.
8 – Experimentar técnicas para aliviar a dor como exercícios com a bola do nascimento, massagem, banho morno ou qualquer outra forma de relaxamento.
9 – Poder optar pela analgesia peridural, se as técnicas de relaxamento não forem suficiente para aliviar a dor.
10 – Ter contato imediato com o bebê logo após o parto e permanecer com o filho, para ele amamentar e receber o carinho da mãe.
As fotos são de Alex Ayala. e-mail: ayala.alex@gmail.com Blogger: www.alexayalafotografo.blogspot.com.br/ Tel.: 55 31 2531-0830Tel.: 55 31 9932-3686 / 9181-7830
Veja aqui a cobertura da palestra realizada em 2014, com mais informações oferecidas pela Dra. Soraya Nogueira.