No último dia 8 de abril, ocorreu, na Associação Médica de MG, mais uma edição do Curso de Preparação para o Parto Humanizado, promoção do Núcleo Bem Nascer, com palestras do Dr. Sandro Ribeiro sobre ‘Preparo para o parto e Plano de Parto’ e da fisioterapeuta Sabrina Baracho sobre ‘Fisioterapia na Gestação’. Como se tornou tradicional, o evento tem início com a roda de apresentação e um depoimento de parto. Desta vez, Letícia Fantoni fez o relato do nascimento da Laura para um auditório lotado de pais e mães ansiosos por informações e conhecimento. Foram doadas fraldas, que serão encaminhadas, desta vez, para o Hospital Sofia Feldman, do SUS. Segue o relato.
“Desliguei do mundo”
“Tive um parto natural na banheira do Mater Dei. Percebi a importância do preparo no parto e pós-parto. Procurei o Dr. Sandro pelo trabalho que vem desenvolvendo no Núcleo Bem Nascer. Buscava um parto natural, que atendesse todas as minhas escolhas e que fosse bom para o nascimento. Tem que escolher muito bem e confiar 100% na pessoa que está nos acompanhando. Fazer o plano de parto, para garantir ser respeitada em suas escolhas. A gravidez foi super tranquila, queria parto normal, mas sabia que também poderia ser uma cesárea.
Fundamental é a entrega, estar em sintonia com seu filho, um ajudando o outro, e ter todo o apoio da equipe – Lena Rúbia (a doula), Sandro Ribeiro e Avelina Sanches (os obstetras). Optei por ter a doula para me acompanhar. Com 40 semanas tinha 2 cm e líquido normal. Repeti o ultrassom e aí veio o susto; estava com um stress: Laura estava bem, mas o líquido tinha diminuído muito. Dr. Sandrodisse: “Temos 24 horas para tomar uma decisão, podemos tentar indução e esperar”. Ele percebeu que eu estava angustiada. Elepediu à Lena para fazer um escalda-pés em mim. Ela me tranqüilizou, me acalmou, fez todo o trabalho do relaxamento. Fiquei mais tranqüila. Ele falou: “desligue do mundo e pense somente em você e sua filha.” Minha mãe criou um grupo de pessoas íntimas para dar informações e eu desliguei o celular… Desliguei do mundo. Procurei ter uma entrega para o parto, mesmo que fosse uma cesárea.
Ele: “E aí? Como vocês estão? O que está sentindo? Hoje você terá o Dia da Mamãe: vai comer o que gosta, … Fui para Inhotim, celular no silencioso, pensando muito na Laura. À noite não aumentou a dilatação. –‘Vamos começar a induzir, a trabalhar o colo do útero’. Monitorada à noite toda, quando foi de manhã, no terceiro comprimido, começaram as contrações, em três horas, super rápido, Laura nasceu.
Pronto, precisou de um empurrãzinho para ajudar, agora é conosco, falei com a Laura. Trabalho com a bola e fui para a banheira. Quando vi já estava com 9 cm de dilatação, pensei em anestesia, mas não precisou, nasceu na banheira sem anestesia. Foi como eu queria, pensava que era possível suportar a dor. É como se tivesse um porre, fui lembrando das coisas, houve um momento de me desligar totalmente e houve aquele momento centrado. A bolsa estourou com o nascimento da Laura. Foi tudo muito bom!
A gente tem que acreditar, se você não acredita fica difícil; tem que confiar no profissional que está atendendo, dá tudo certo! Foi muito importante o apoio de todos para que o parto fosse tranqüilo. Meu irmão e minha avó tinham acabado de chegar, estava tocando Tom Jobim”.
Qual o dia mais importante da sua vida?
“O dia do seu nascimento”, respondeu Dr. Sandro Ribeiro no início da sua palestra onde abordou o ‘Preparo para o Parto e o Parto e o Plano de Parto”.
A ambiência
“O Plano de Parto faz parte do seu cartão pré-natal. É onde você fala dos seus desejos e escolhas; um roteiro de viagem para um parto respeitoso e seguro. Acredito que a informação dissipa os medos. É primordial a ambiência: Onde quero? Como eu quero? Transforme em ninho, o lugar do seu parto. Estar num ambiente onde se sinta acolhida (pode levar um edredon, o seu travesseiro), para se sentir em casa. A ambiência corrobora para a evolução fisiológica do trabalho de parto”.
Deambulação
“Deambular é andar durante o trabalho de parto. É a melhor evidência científica, que define ser um excelente exercício do controle da dor, da redução do uso de anestesia e a aplicação de ocitocina. O parto fica menos dificultoso, menos arrastado”.
Contou que “o médico François Mauriceau, já em 1668, percebeu que as mulheres que andavam durante o trabalho de parto, queixavam-se menos da dor e ganhavam o bebê mais rápido”.
Alívio da dor
A ambiência, a deambulação, a eletro-estimulação nervosa transcutânea (TENS), a musicoterapia e a focalização da atenção foram indicadas pelo Dr. Sandro como ferramentas de alívio à dor. Além de massagens, compressas mornas ou frias e banhos, chamados por ele de “aquadural” (referência à peridural).
Banhos de imersão (na banheira) ou de aspersão (no chuveiro), com a água batendo nas costas, ajudam a reduzir a dor. Elementos não farmacológicos para terapia analgésica, como as massagens feitas pelas doulas, PhDs no assunto, que sugerem mudanças de posição e exercícios na bola de Bobath.
E findando, a analgesia, que dá o alívio farmacológico, retirando a dor e preservando a percepção da descida do bebê”.
Hormônio tímido
Dr. Sandro sugeriu luz baixa (a penumbra) durante o trabalho de parto: “a ocitocina é um hormônio tímido, ‘detesta’ luz, é importante ter pouco estímulo externo. A luz é excitante.”
De Cócoras
“A melhor posição é a verticalizada. Por um motivo muito óbvio, o nenê vai gastar menos energia para nascer, sob a ação da gravidade. Temos 30% de ganho na superfície do plano de saída da pelve. A mulher termina o parto menos exausta. Já o parto na água: Diminui o risco de laceração, reduz o impacto do desprendimento do bebê. O banho sempre tem uma ação relaxante”.
Recomendou o livro ‘Nascer sem Violência’, de Frédérick Leboyer e fechou a palestra citando dois ditos do obstetra francês, Michel Odent:
“Temos que mamiferizar o parto”. Segundo Sandro Ribeiro, “temos que desconectar, o processo é fisiológico, deixar a natureza agir.Reduzir os estímulos do neocórtex: a linguagem, a luz e o som…”
“Sempre que nasce uma criança, é um sinal que Deus acredita na Humanidade”.
Novidade
Luciana Carneiro está grávida de de 27 semanas de Laís. Vai ter seu parto com a assistência da obstetra Avelina Sanches e está “torcendo para ser parto normal: “Vai ser uma grande novidade na minha família, todas as minhas irmãs tiveram cesariana, não buscaram informações e já foram para cesárea. Meu pai perguntou se ia ser cesárea, tem pânico da dor”. Disse que está gostando das palestras “vou me acostumando com o linguajar, termos médicos, fica mais próximo e mais tranqüilo”, afirmou.
Visão do médico
Valéria Cota e Flávio Patrocínio estão grávidos de 31 semanas do Francisco. Dra. Alessandra Cota vai acompanhá-los no parto. “Estava pensando em ser natural, pelo menos normal. Achei boa a palestra, ando querendo saber coisas do trabalho de parto” disse Valéria. Já o pai gostou: “Vi a visão do profissional médico, ainda não havia escutado um médico. Dá outra visão, vemos muitas coisas com muito encanto, é bom colocar o pé no chão”, concluiu.
De volta, agora como pai
Alex Ayala (autor das fotos anexadas à matéria) já havia fotografado outras palestras do Núcleo Bem Nascer. Agora, voltou como pai. Estava com Maria Virgínia Valadares Borges, que é sobrinha de Dr. Marco Aurélio Valadares. Está com 12 semanas e terá seu filho com Dra. Alessandra Serávolo. “Sempre tive ginecologista mulher. Quero que seja um parto respeitoso, mais natural possível”.
Alex disse que está tranquilo: “É natural que o homem não tenha maiores angústias, não passamos pelas mudanças, vai acumulando para o dia do parto, aí sim, vamos vivenciar”.
Maria Virgínia relatou que “antes de ficar grávida tinha medo do parto, nem pensava no assunto. Depois passei a entender melhor este universo. Não sinto mais aquele medo, hoje prezo muito participar do parto. A palestra foi esclarecedora. Não sabia que o trabalho de parto era sistematizado e que deveria levar o Plano de Parto”.
O que o fisioterapeuta faz?
A fisioterapeuta Sabrina Baracho respondeu esta e outras perguntas em sua palestra.
“Preparação do períneo, prevenção e tratamento de dores e desconfortos. Com a gravidez, há um aumento do peso da barriga, altera a curva da coluna; o corpo precisa se adaptar. Algumas sentem dores na coluna, outros, fisgadas no bumbum; as articulações sofrem uma frouxidão para se preparar para o parto”.
Sugeriu a adoção “de hábitos posturais corretos, não deixar a barriga solta para evitar a diástase abdominal, e o uso de um travesseiro entre as pernas na hora de dormir para evitar torções na coluna. Colocar um travesseiro nas costas ao se assentar. Evitar cruzar as pernas e quando estiver deitada e for se levantar, virar-se do lado”.
A gestante deve adotar atividades físicas. Os mais indicados, segundo a fisioterapeuta: caminhada, natação, Pilates ou Hidroginástica.Recomenda cautela no uso de cinto no pós parto: “o uso de cinta dá um suporte abdominal para cuidar do bebê, por outro lado,usar sem ativar seu músculo, enfraquece o abdome. Não usar por mais de 15-20 dias. Meia de compressão, quando se tem tendência a varizes deve ser usada todos os dias”.
“Trabalhar a respiração diminui a ansiedade e leva oxigênio para o bebê. Diariamente, tire um momento para se repousar e aproveite para puxar devagar o ar pelo nariz (inspirar) ‘enchendo a barriga’ e soltar o ar pela boca”.
Contatos com Sabrina Baracho: 31-4103.6779 - 31-9131,8970
Email: sbsabrinabaracho.com.br