Nos dias de hoje, em que está em pauta nos meios de comunicação a necessidade de redução das taxas de cesarianas no Brasil, aumentando a busca das mulheres por um parto menos intervencionista, tem crescido a procura das gestantes pelo profissional fisioterapeuta para auxiliar na preparação para o parto normal. Mas como o fisioterapeuta pode contribuir? Não seria o parto um evento fisiológico, sem necessidade de preparação? As mulheres não sabem parir? Não foi assim desde sempre?
Sim, as mulheres têm instinto para parir. Seu corpo sabe como fazer isso. No entanto, vivemos atualmente uma realidade que tende a embutir na mulher o medo do parto normal. Elas têm medo da dor, medo do imprevisível, medo da perda de controle, medo de não serem capazes. De certa forma, as mulheres são estimuladas a se desconectarem de seus processos fisiológicos. A maioria das gestantes no Brasil não aprende a lidar com a dor do parto com recursos não farmacológicos e acaba tendo partos com analgesia precoce. Recebem ocitocina artificial para aumento das contrações quando poderiam se movimentar para estimulá-las. Muitas vezes não conseguem fazer força para ajudar o bebê a nascer porque não estão percebendo como podem participar ou não lhes foi dada a oportunidade.
Preparar-se para o parto não é aprender a parir. É aprender a perceber seu próprio corpo para se conectar a ele com mais facilidade. É despertar suas inúmeras possibilidades. Resgatar sua força, seu instinto. A mulher que faz Fisioterapia na gravidez não tem maiores chances de ter parto normal, pois são inúmeros os fatores que determinam a via de parto, mas certamente tem maiores possibilidades de participar ativamente do nascimento do seu filho.
Para alcançar esses objetivos, o fisioterapeuta realiza a preparação global do corpo, não somente para o parto, mas também para a gravidez e pós-parto, e a preparação dos músculos do assoalho pélvico, que recobrem a parte inferior da pelve. Durante o parto, esses músculos precisam relaxar e alongar; em geral, quanto maior sua flexibilidade, menores as chances de lesões na região. Por isso, o fisioterapeuta realiza o alongamento dessa musculatura e, no final da gestação, treina seu relaxamento ao mesmo tempo em que a gestante tenta fazer o movimento de expulsão. Algumas mulheres já sabem naturalmente realizar esse movimento, mas a maioria tem dificuldade por se tratar de algo nunca realizado antes. Muitas mulheres se surpreendem, por exemplo, ao perceberem que o movimento de expulsão pela vagina não é o mesmo que é feito para evacuar.
Ao contrário do que muitos pensam, a Fisioterapia não deve ser realizada somente por gestantes que buscam o parto normal. Temos que lembrar que a gravidez e o pós-parto geram intensa sobrecarga para as articulações, músculos, tendões e ossos. A postura da mulher se modifica e os cuidados com o bebê representam uma demanda extra para o corpo. Até mesmo os músculos do assoalho pélvico enfraquecem, mesmo nos partos cesarianas, devido ao aumento de peso e às alterações hormonais da gravidez e pós-parto. Por isso, desde o início da gestação (preferencialmente, até mesmo durante o planejamento da gravidez), a mulher deve cuidar do seu corpo – ter uma alimentação balanceada, realizar atividade física bem prescrita, fazer exercícios específicos para os músculos do assoalho pélvico, cuidar da postura. Assim, independentemente da via de parto, terá maiores chances de uma gravidez e pós-parto saudáveis, com qualidade e bem estar.
Texto escrito por Sabrina Baracho, Fisioterapeuta da Clínica Sabrina Baracho Fisioterapia na Saúde da Mulher . CREFITO 4/81614 F