Relatos de parto

MARIA

Lívia & Mário

Era uma sexta-feira, 21 de agosto de 2020, e eu estava com 39 semanas e 3 dias de gestação. Depois da correria de finalizar o meu trabalho, senti um alívio ao perceber que iria me preparar, em tempo integral, para o parto. Sendo minha primeira gravidez, eu sabia o quanto era comum que o parto ocorresse após as 40 semanas. Como a data prevista do parto era o dia 25 de agosto, teria mais uma consulta pré-natal com o Dr. Sandro e ainda faria mais uma sessão de fisioterapia com a Nathalia. Também estavam marcadas para a outra semana a última sessão de meditação antes do parto e, por fim, a de terapia. No dia 21 acordei mais cansada e com um pouco de cólica, o que não me impediu de mandar os últimos e-mails do trabalho e de comparecer na clínica para realizar o ultrassom.  O dia transcorreu com um pouco de incômodo em razão da dor e, por isso, deitei alguns momentos. Aquela dor continuava presente, mesmo de leve. Também senti uma dor na região do cóccix.  Pensei por um tempo, avaliei que a dor era suportável e resolvi fazer o ultrassom. Já na clínica, relaxei, esperei ser chamada e acabei me esquecendo das cólicas que, no meu entender, eram as contrações de treinamento. Comentei com a minha amiga Ana Paula sobre a cólica e ela me sugeriu que eu avisasse ao Dr. Sandro. Assim fiz e o Dr Sandro me perguntou o intervalo entre as cólicas, me receitando um remédio para dor.  Pouco antes das 17 saí da clínica e resolvi buscar meu marido no trabalho. Chegamos em casa por volta de 18 horas e optamos por subir até nosso apartamento de escada, como costumávamos fazer. Acredito que a magia de ver a minha bebê na ultrassonografia me fez esquecer um pouco da dor. Fui tomar banho e percebi que as cólicas estavam ficando mais fortes. Chorei de dor e achei estranho. Nunca tinha lavado a minha cabeça tão rapidamente e logo saí do banho. Fiquei deitada na cama para ver se amenizava e tive a ideia de baixar o aplicativo “Contrações”. Meu marido estava ainda tomando banho e custava a sair, o que nunca tinha acontecido antes. Comecei a perceber que as dores estavam tão fortes que já me faziam ter uma noção de contagem do tempo bem diferente.  Fiz contato com o Dr Sandro e informei que as contrações estavam ocorrendo a cada 5 minutos. Dr Sandro me falou para continuar a contar o intervalo entre as contrações e me orientou a voltar para o chuveiro. O meu marido, que nessa altura já tinha saído do banho, saiu para comprar o remédio. Telefonei para a minha mãe e contei o que estava acontecendo. Logo depois fiz contato com a Lena e ela me orientou a observar o intervalo entre as contrações, me passando instruções para aliviar a dor no chuveiro. Liguei para a minha mãe novamente mas, dessa vez, disse para ela que não aguentava mais conversar e desliguei o telefone. As cólicas se intensificaram muito e Mário chegou da farmácia. Tomei o remédio e me deu uma vontade grande de fazer xixi. Fui para o vaso sanitário e desceu um líquido amarronzado. Voltei para o chuveiro. Não encontrava posição que amenizasse a dor e comecei a chorar muito. Lena tinha me orientado a colocar uma toalha no piso do box e assim fiz. Tentava variar as posições para aliviar a dor e a única que me permitia aguentar era a posição de quatro apoios. Lena ligou e perguntou o intervalo entre as contrações. Mário me passou o telefone e eu disse que não aguentava conversar e nem conseguia mais contar o intervalo entre as contrações. Mário também falou para ela do líquido que eu expeli. Em seguida a Lena disse que estava se dirigindo para minha casa. Logo depois o Dr Sandro ligou e o Mário colocou no viva-voz novamente. Eu disse a ele que não estava conseguindo contar as contrações. Em seguida, Dr Sandro me perguntou para qual maternidade eu queria ir e, gritando de dor, falei Neocenter. Nesse instante, o Dr Sandro disse que estava indo para lá. Pouco tempo depois a Lena chegou no meu apartamento e me senti extremamente aliviada.  Eu ainda não tinha conseguido sair do chuveiro, de tanta dor. Lena viu o líquido dentro do vaso, disse que era o líquido aminiótico e me aconselhou a sair do chuveiro. Eu falei para a Lena que não ia conseguir sair e ela insistiu, me explicando que eu estava em trabalho de parto. Eu pedi para ela esperar porque queria ir ao banheiro antes de sair. Lena disse que essa vontade que eu sentia era a minha bebê que estava chegando. Lena novamente insistiu, dizendo que, se não saíssemos naquele momento, minha filha iria nascer em casa. Juntei forças para sair do chuveiro com a ajuda da Lena e Mário escolheu um vestido para mim. Enquanto eu colocava a roupa, meu marido chamou um motorista da Uber e fomos para a porta do prédio. Lena tinha pedido uma toalha para o Mário e, quando o motorista chegou, ela me posicionou ajoelhada no banco de trás, de costas para o motorista, forrando o banco do carro com a toalha. Ela sentou do meu lado e Mário ficou em casa para esperar minha sogra e minha cunhada, que o ajudariam para arrumar a mala da maternidade. Enquanto nos dirigíamos à maternidade, Lena, tentando aliviar a minha dor, fazia massagens em mim e disse ao motorista que corria o risco da minha bebê nascer no carro dele, ressaltando que isso traria bençãos para ele. No trajeto, Lena me falava para pensar que, a cada contração que vinha, era uma contração a menos. Eu, já em transe, não conseguia raciocinar e rezava para conseguirmos chegar a tempo na maternidade. Chegamos na Neocenter às 19:52. Sentia muita dor e foi muito difícil sair do carro.  Assim que chegamos na porta da maternidade, Lena me disse: “agora sua filha pode nascer”.  Entreguei minha bolsa para a Lena dar entrada, com os meus documentos, na Neocenter. Dr Sandro já me esperava lá e me conduziu para ver como estava a minha dilatação. Estava com 10 cm de dilatação e o Dr Sandro já foi ver a disponibilidade da suíte de parto. Lena voltou da recepção e me disse para agradecer por já estar com 10 cm de dilatação. Fomos, os 3, para a suíte de parto. Lena foi comigo para o chuveiro, me auxiliando a encontrar uma posição para aliviar a dor e fazendo massagens em mim. Enquanto isso, o Dr Sandro fez contato com a equipe da maternidade para providenciar e encher a banheira, acompanhando o procedimento para eu poder entrar. Quando a banheira estava pronta, fui para lá e procurava encontrar a melhor posição. Não aguentei ficar de cócoras mas ajoelhei, fazendo força. Percebi que comecei  a vocalizar, cada vez mais forte. A vontade de expulsar minha bebê era enorme e percebia que o expulsivo estava fluindo bem mas, em um momento, já muito cansada, reclamei que não tinha posição confortável. Lena segurava a minha mão e ela e o Dr Sandro me falavam que faltava pouco para a Maria chegar, para eu fazer força no momento em que as contrações chegassem. Foi o que fiz. Nesse momento, eles me falaram que já dava para ver a cabecinha da Maria e me perguntaram se eu gostaria de sentir. Eu estava tão concentrada que preferi não sentir e continuar fazendo força. Logo depois a Lena falou que gostava da cara que eu estava fazendo e o Dr Sandro disse que na próxima contração a Maria iria sair. Tentei a posição de quatro apoios e percebi que era mais fácil fazer força. Lena e Dr Sandro sinalizaram no sentido de que eu estava indo bem naquela posição. Mesmo concentrada no período expulsivo, percebi que chegaram outros profissionais no quarto e eu presumi que um deles poderia ser o pediatra, sinal de que Maria estava chegando! Tudo isso me deu um impulso para a próxima contração e Maria chegou, às 21:55! Maria me olhou, com seus olhos grandes e atentos, fez um biquinho, sem entender o que estava acontecendo, e veio para os meus braços.

Uma emoção indescritível tomou conta de mim! Assim que Maria nasceu, descobri que o Mário tinha entrado na suíte de parto e chegou minutos antes dela nascer, o que foi uma alegria para mim. É difícil descrever o quão maravilhoso foi trazer minha filha a esse mundo através de um parto humanizado, com luz baixa, muito respeito, amorosidade e sintonia entre os profissionais, que me deixaram o tempo todo segura, à vontade, acolhida. Posso dizer que vivenciar esse momento de forma tão intensa me provou que eu soube lidar com a ausência de controle que o parto nos convida a absorver. É tão gratificante saber que consegui entender os sinais do meu corpo e estar em sintonia com a minha filha! Como tudo fluiu da melhor forma, como as coisas foram acontecendo como tinha que ser! A natureza é sábia, é grandiosa! A gestação e o parto me tornaram uma pessoa melhor, sem dúvida! Não poderia terminar esse relato sem agradecer às pessoas que influenciaram direta e indiretamente no rito de passagem mais especial da minha vida! Maria, meu grande amor, espero que você leia esse relato e veja o quanto você me fez crescer! Olhe como sua chegada gerou tantos movimentos na minha vida! Quanto conhecimento a maternidade me trouxe e vem me trazendo! Obrigada, minha filha, por ter me escolhido para ser sua mãe e por estarmos juntas nessa jornada! Maria, você deu novo sentido às palavras dor e amor. Que dor maravilhosa foi aquela que te trouxe a este mundo! Você ressignificou a palavra amor, porque o que sinto por você é tão especial e distinto de tudo o que já senti nesta vida. Quero agradecer ao meu marido Mário, pai da nossa filha, que me apoiou em todas as escolhas na gestação. Mário superou seus receios e conseguiu presenciar a chegada da Maria, como eu tanto tinha sonhado! À minha mãe, que esteve em sintonia comigo o tempo todo. Via filmes para se informar, lia sobre o assunto e me dava a mão em todos os momentos da gravidez, sempre disponível e me passando tanta segurança! Quero agradecer à minha amiga-irmã Ana Paula, que sempre foi minha rede de apoio e me abriu os olhos para o parto humanizado. Ana, com todo o amor e carinho, me fez perceber que não existia forma de trazer minha filha a esse mundo mais compatível com o que eu acredito. Ana foi a pessoa que mais me ouviu, me aconselhou e me acolheu. Ela me indicava os profissionais, me passava sua experiência e se fez presente, mesmo não podendo me encontrar em razão da pandemia relativa à COVID -19. Para Ana, todo o meu amor e gratidão! Ao Dr. Sandro, que sempre me passava tranquilidade, naturalidade e segurança. Profissional que, mesmo com todo o conhecimento, se fez acessível e nos acolheu. Dava para sentir o quanto ele ama o que faz. Pessoa de astral excelente, palavra que ele costuma tanto usar, e que é tão motivacional! À Lena que, desde o primeiro contato, me encantou com a sua presença de espírito, me despertando para a força das mulheres. Foi muito especial perceber que meu parto ocorreu exatamente como eu tinha intencionado no chá de bençãos organizado pela Lena! Sair com ela para a maternidade foi muito simbólico para mim, me deu coragem! Sinto muita gratidão por ter sido ela a me acompanhar! À Raphaela, minha professora de meditação que esteve comigo desde o terceiro mês de gestação e me fez refletir sobre tantas questões na minha vida pessoal e profissional. Raphaela foi essencial na minha gravidez, me trouxe leveza e foi um grande suporte para eu estar em paz em tempos de pandemia. Graças à preparação com as sessões de meditação, eu pude perceber a magnitude da escolha pelo parto natural, pude me conectar com a minha filha na gestação, meditando com ela, para ela. À Nathalia, minha fisioterapeuta, com quem tanto me identifiquei. Profissional incrível, que me acolhia em cada sessão! Quanta sintonia em nossas conversas, quanta informação ela me passou. Foi maravilhoso ter a oportunidade de fazer fisioterapia com ela! Com ela, pude saber o que me esperava no parto e me preparei! Por fim, meu agradecimento à Neocenter, maternidade que cumpre o seu papel em busca de um parto humanizado através de todos os seus profissionais e em todas as suas instalações.