De Mulher para Mãe - Psicologia da Gestação

28/11/2014
Renata Duailibi falou psicologia da gestação.

Os inúmeros conflitos, dúvidas, expectativas e sonhos das  gestante durante a gravidez e o parto foram abordados em palestra, dia 28 de novembro,  sobre' Psicologia da Gestação', na última etapa do ‘Curso de Preparação para o Parto Humanizado’, promovido pelo Núcleo Bem Nascer mensalmente na Associação Médica. Foram abordados também os cuidados no pós parto e aleitamento materno. O evento deste mês coincidiu com o jogo decisivo do Atlético e Cruzeiro. Mesmo, assim, os casais grávidos compareceram e tiveram a garantia que seriam liberados quinze minutos antes das dez da noite. O que foi cumprido.

A noite foi aberta com o depoimento de parto de Ana Letícia Castro, ao lado de seu companheiro, Frederico Godoy e da bebê, Eduarda. “Eu tinha medo do meu bebê nascer prematuro. Precisei ficar de repouso dois meses, ficava muito apreensiva, mas tinha fé. Rezava todos os dias para chegar ao final. Entrei em trabalho de parto, tive medo de nascer no carro. Foi bem rápido! Muito tranquilo. Parto normal como planejamos. Cheguei às 7h30 ao hospital, Eduarda nasceu às 10h30. Minha recuperação foi excelente. Depois do parto, lavei os cabelos, estava nova. Recebi muita ajuda no hospital, a teoria se aprende na prática. Meus dois seios feriram, cicatrizaram dois dias depois. O parto foi na Maternidade Santa Fé. A Avelina me ensinou a amamentar. É muita alegria na hora de nascer, uma sensação indescritível. O marido ajuda muito, é importante este apoio. É fundamental! O parto foi na posição tradicional. Cada semana era uma vitória no tempo do repouso. Tomava banho com o celular na mão. Parei de trabalhar e fiquei dois meses em casa. Achei ótimo, porque consegui segurar. Nos dias anteriores senti muita dor, mexia, doía, ela estava muito encaixada. Na segunda feira, estava com 6 cm de dilatação. Avelina disse, vamos esperar entrar em trabalho de parto. Quinta feira, muita dor, tem que nascer hoje! 8 cm, franco trabalho de parto. Desesperei, pedi anestesia e comecei a conversar, ajudou a me tranquilizar. Tinha muito medo da dor.. Nasceu cinco dias antes do previsto, sem episiotomia, saí andando depois do parto, carregando Eduarda”.

Período de transição

Em seguida, a psicóloga Renata Duailibi desenvolveu o tema – Psicologia da Gestação para uma plateia interessada e atenta. “A Psicologia sabe mais escutar, que falar”, começou justificando um certo constrangimento de falar em público, mas logo passou a transmitir com tranquilidade conteúdos importantes.

“Não há gravidez sem história. Como o bebê foi concebido? Quais as expectativas dos pais em relação a ele? A gravidez dá lugar a uma criança única e singular. Nenhuma gravidez é igual. Cada criança traz um sentido.”

“ Para a Psicologia, gravidez é um período de Crise. Crise não é vista como negativo. É um período de transição, reestruturação, reajustamento. Ninguém vai entrar e sair da mesma forma. A Crise é a eminência da transformação”.

“Uma nova identidade, abrir espaço para uma nova pessoa. Você entra mulher e sai mãe”.

Banho de linguagem

Renata Duailib falou de um conceito interessante – ‘o banho de linguagem’. O que seria isto? É a pré-história da criança. “É o encontro de dois desejos – do pai e da mãe – destes desejos, surge um terceiro. ‘O nenê vai nascer de parto normal’, ‘vai ser lindo!’ Vai para a escolinha’, ‘um dia vai casar’; são muitas as expectativas que precedem a sua chegada” – pontuou.

“Cada história  é particular. Não existe bebê ideal, na maioria das vezes, não é como sonharam. É preciso abordar o histórico da gravidez, como está a sua vida afetiva, emocional, financeira? É o primeiro filho? Foi planejado? Já sofreu perdas? Onde está fazendo pre-natal? Como vai receber esta criança? São algumas das perguntas que a psicóloga faz na sua condução clínica diante de uma mulher grávida.

O início

Renata relatou os sintomas peculiares a cada um dos três trimeses da gestação. Segundo ela, no primeiro trimestre há a constatação da gravidez e tem início o vínculo entre a mãe e o bebê. Ainda é algo abstrato, a barriga ainda não é visível. Ambivalência de sentimentos. Muitas mulheres dizem ‘só me senti grávida quando a barriga começou a crescer’. Segundo a psicóloga, esta ambivalência de sentimentos é ação dos hormônios. “A mulher fica triste, de repente fica alegre, há uma instabilidade emocional, esta oscilação de humor é normal”, afirmou.

Segundo trimestre - Paz

O Segundo trimestre vai da 13ª a 26ª semanas. “Paz! Os sintomas físicos passam, o bebê passa a ser uma realidade concreta. Você pode ver e sentir o nenê. Sente os movimentos fetais, vê seu filho no ultrassom. Durante este período é comum a inveja paterna, muitos maridos brigam, têm ciúmes. Você passa a estar grávida para a sociedade Altera a sua sexualidade, você passa de mulher a mãe. Muitas se perguntam, posso continuar transando?

Muita mulher depois que é mãe esquece que é mulher, alertou.

Último trimestre - Irreversível

A partir da 27ª semana começa o terceiro trimestre. Aí, a ansiedade tende a aumentar, e desejos ambíguos vêm à tona, de terminar a gravidez ou prolongá-la. Surgem os temores da dor do parto. Como vou saber se chegou a hora? Será que vou chegar a tempo? Meu médico vai estar lá? Um espaço transitório onde forças coexistem: ganho x perda, nascimento x morte, final x início e  uma situação irreversível , vai nascer.

(Dr. Marco Aurélio)

“A experiência do parto fica registrada na memória de todos. É um processo de separação. O parto pode trazer lembranças do próprio parto, momentos de dor ou alegria”.

Prepare-se para o Puerpério

No Puerpério mora o perigo, diriam alguns. Não tem tempo preciso para o término do chamado Puerpério. Segundo Renata, ocorre a perda da barriga e uma nova organização psíquica. Algumas mulheres sentem como se perdessem uma parte de si mesmas. Dizem ‘tenho uma saudade da barriga, parece que uma parte de mim foi embora’.

Dr. Sandro Ribeiro acrescentou: “É frequente acabar o parto e elas dizerem que sentem falta da barriga. A perda é muito abrupta! Se não fosse o filho, ça mulher enlouqueceria.  Há uma simbiose entre ela e o bebê”.

Tristeza

A psicóloga esclareceu que é natural uma certa tristeza no pós-parto, os primeiros dias inviabilizam a vida social. . É chamado de ‘baby blues’.  A depressão propriamente dita tem outros sintomas, como alteração no sono, pensamentos negativos, rejeição ao bebê, mas são eventos raros, segundo ela. 

Renata Duailibi terminou a conferência com uma brincadeira: “Quem disse que amor não enche barriga?” Foi muito aplaudida.

No coffee break

Os participantes foram para um variado coffe breack onde trocaram ideias e comeram as gostosuras. As grávidas, claro, correram para o banheiro, o mais frequentado. Ludmila Pereira está grávida de Helena, com 37 semanas. Faz pré-natal com Dr. Sandro Ribeiro e achou muito interessante a palestra. “Fechou com chave de ouro. O que mais tocou foi o puerpério. Sou mãe de primeira viagem, sou muito ansiosa com o parto, medo de não dar conta da chegada do bebê”. Karoline Rocha, de 35 semanas, também  cliente do Dr. Sandro, espera o Nathan e comentou “achei ótimo, porque tudo aquilo que eu passei – medos, anseios – vi que é normal, não estou fora da regra. Vi que é bom nos preparar para o puerpério”, reconheceu.

Camila Lopes, de 35 semanas, procura esquecer que é obstetra – “estou tentando ser apenas mãe, sair do olhar do médico”, Ela é cliente da Dra. Avelina Sanches e carrega Letícia no ventre. “Estou evitando as expectativas sobre o parto. Ser  tudo como deve ser”.

Voltando ao normal

Depois do coffee breack, foi a vez da Dra. Avelina Sanches dar esclarecimentos sobre o pós-parto. Explicou que o puerpério - após o parto, é um "período de reparação do nosso corpo, que está voltando ao normal” – alertou. Ela disse que o colo do útero dilata 10 cm, em duas horas já está com 2 cm, e em duas semanas, está fechado. Lembrou que algumas secreções sanguinolentas são normais no pós-parto, devido à cicatrização do endométrio. O sangue fica com um fluxo maior. Detalhou: no parto normal a alta é em 24 horas, nas cesáreas, em média 48h.  Esclareceu que nos partos normais pode-se ingerir comidas leves, ao contrário das cesáreas agendadas, que exigem 8h de jejum.

Anestesia: a mulher perde a sensação da dor, mas não deixa de sentir o corpo.

Pontos: O organismo os absorve. Deve-se lavar com água e sabão e não passar nada.

Inchaço - Edema é normal, evolui até 10/12 dias após o parto

Incontinência urinária - é reversível. Recomendo exercícios no períneo.

Hemorróida tem a ver com alimentação, comer mais legumes e verduras. Também não é recomendado ler na privada.

Dor, febre são sinais de alerta.

Ressecamento vaginal é normal, devido a hormônios.

Visitas

 Dra. Avelina recomendou algumas regras no pós-parto imediato: “são  momentos de muita privacidade, intimidade. O ideal é deixar para depois de 15 dias. Lave as mãos. Não peça para pegar o bebê. Não dê palpites. Faça visitas de no máximo 20 minutos”.

Recomendou a leitura do livro ‘Shantala’, massagens indianas para o bebê ficar tranquilo. Disse que usou com suas duas filhas e dá muito resultado.

Isto é fato!

Dr. Sandro Ribeiro é especialista em aleitamento materno. Deu dicas importantes para as gestantes em sua palestra sobre aleitamento materno. Começou a explanação com uma pintura de Picasso, que retrata uma mãe amamentando e aconselhou “barriguinha com barriguinha, olhar no olhar”. Garantiu que criança que mama no peito é mais tranquila. “Isto é fato!” Disse que o importante é o aconchego, o calor da barriga, que pode acontecer também ao se dar uma mamadeira.

Vantagens para a mulher

Dr. Sandro afirmou categoricamente: “Toda mulher  tem capacidade de amamentar seu filho. A forma do bico do seio não interfere em nada. Não existe este negócio de leite fraco. Amamentar ajuda a reduzir a barriguinha do pós-parto. A mulher perde peso. A autoestima da mãe aumenta – ‘eu sou o alimento do meu filho’. Por meio da amamentação, fortalece a relação com seu filho, transmite amor, carinho. Apontou outras vantagens do aleitamento materno: “reduz o risco de câncer de  mama e ovários, o leite materno está pronto, na temperatura ideal, em qualquer lugar. Diminui o risco de doenças cardiovasculares e diabetes.

E deu uma informação encorajadora: “Libera ocitocina, o que leva ao relaxamento para a alma e o corpo”.

Benefícios para o bebê

 “Não fica obeso. É o alimento completo para ele, contém todos os nutrientes. Cresce e desenvolve com saúde. Boa dentição. Desenvolve o paladar, pois o leite tem diferentes sabores.  É barato. Melhora a qualidade de vida do bebê”.

Benefícios para o planeta

Dr. Sandro inova ao relacionar amamentação com ecologia. Quanto ao planeta: Amamentar é ecológico. Menos gastos  com pastos para criação de vacas leiteiras, menos plástico para mamadeiras e copinhos”.

Para o sucesso

Essencial no sucesso da amamentação, segundo Dr. Sandro, “é a boa pega, boca de peixinho. O bebê tem que pegar toda aréola. Estimule a boquinha dele com o bico do seio, que vai levar ao reflexo da bocanhadeira, a boca de peixinho, que vai permitir que abocanhe corretamente os mamilos”.

Alertou: “Nunca limpe o peito com álcool. Evite protetor de mamilo. Evite bebidas, drogas e cigarros. Não deixe mamar em outra mãe. Compressa só de água fria. Esvazie a mama após a amamentação, para tirar o leito de baixo. Amamente em livre demanda. Antes de dar o peito, massageie as mamas para retirada do leite. Não existe leite fraco, existe leite mal administrado”.

Colostro é rico em gorduras, carboidratos, minerais, hemoglobina e anticorpos. Até seis meses não precisa suplementos alimentares, nem água. A amamentação transmite segurança, tranquilidade emocional, aconchego.

Para prevenir fissuras, banhos de sol.

Hidratação: importante beber de 2 a 3 litros de água por dia,  favorece a lactação.

E aconselhou: “Na hora de amamentar, vá para um lugar tranquilo, escolha uma posição agradável, converse baixinho ou cante para  o bebê. A calma é importante. 

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